COMEÇANDO COM CHICO BUARQUE
Abro as Domingueiras com este trecho do novo livro de Chico Buarque, “Essa Gente”, somente porque hoje é domingo:
DESCENDO a ladeira emparelhei com um passeador de cães que me parece novo no bairro. É um mulato franzino que conduz e é conduzido por uma dezena de cães, entre os quais o labrador de dona Maria Clara. Dona Maria Clara tinha ido ao médico com o filho e não havia ninguém em casa para receber o animal. O porteiro se recusava a ficar com ele, que era capaz de sujar a portaria, apesar de o passeador lhe mostrar o saquinho de plástico cheio de cocô. Anoiteceu quando subo a ladeira de volta e vejo o rapazola sentado no meio-fio com o labrador, já tendo certamente devolvido os outros cães. Chego em casa, escrevo estas parcas linhas, abro um vinho, esquento um suflê e vejo futebol na televisão. Vou me deitar para lá de meia-noite, tenho sono, mas não consigo dormir. De pijama pego o carro na garagem, desço a ladeira de ré, encontro o passeador sentado com o cão no mesmo lugar e o faço subir no banco traseiro. No apartamento, depois de me farejar entre as pernas, o cão se esparrama no chão da cozinha e rejeita a ração de gato que lhe ofereço. Ao passeador ofereço uma Coca-Cola e um resto de suflê frio que ele aceita com gosto. Fica todo agradecido por poder ver televisão e dormir no sofá da sala. Depois pergunta se tem de comer meu cu.
GILVANZINHO
Esse trecho me fez lembrar outro trecho, só que do meu livro “O Lado Engraçado dos Políticos”. Gilvanzinho, funcionário da Assembléia, terminou o expediente e sentou num banco da praça João Pessoa para esprairecer. Apareceu o rapaz do amendoim, Gilvan comprou um pacote só pra ajudar e perguntou quantos ele vendia por noite. Depois quis saber da vida do rapaz. Ficou sabendo que ele era casado, tinha cinco filhos e vivia do que vendia.
-Mas você consegue sustentar essa família toda com esse dinheiro do amendoim?
-Bem doutor,conseguir não consigo, a sorte é que de vez em quando aparece um cuzinho para eu comer…
A CARREATA DA MORTE
Leiam esta matéria:
Revista Fórum – A carreata promovida por bolsonaristas contra o governador de São Paulo, João Doria, decidiu fazer um grande buzinaço e parar o trânsito justamente em frente ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC), na capital paulista.
Vídeos publicados por apoiadores do presidente mostram pessoas descendo o carro e fazendo muito barulho ao passar pelas quadras da Av. Rebouças que reúnem os prédios do HC. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas fica na mesma região.
Na última semana, o HC montou uma mega-operação para remanejar pacientes e esvaziar 900 leitos para atender exclusivamente a demanda em razão do surto do novo coronavírus. Já o Emílio Ribas, referência em imunologia no Brasil, está com 100% dos leitos ocupados com pacientes de Covid-19.
Agora comparem com esta fala do presidente, já publicada anteriormente por Tereza Cluvinel:
“Nas últimas horas, em duas falas, Jair Bolsonaro foi o mais explícito possível quando ao seu plano macabro para o Brasil na pandemia: que o isolamento social acabe, a vida volte ao normal e morram quantos tiverem de morrer.”
Compararam? Então concordem comigo: Estamos fudidos.
QUEREM MATAR RENAN FILHO
A Polícia Civil de Alagoas abriu inquérito neste sábado (18) para investigar o áudio de um empresário sugerindo a união de donos de loja para “dar um tiro” no governador do estado, Renan Filho (MDB), por causa das medidas de isolamento social.
O empresário gravou o áudio após uma suposta conversa com o diretor do shopping onde ele tem o empreendimento, em Maceió. “O negócio é, se a gente não se juntar pra dar um tiro nesse filha da puta desse governador, melhor a gente ficar em casa mesmo cordeirinho, como a gente está, vivendo numa ditadura”, diz o aúdio, de acordo com reportagem do UOL.
A QUARENTENA DE GERBASE
Sebastião Gerbase, o Basinho, contou em versos como está enfrentando a quarentena:
MINHA QUARENTENA DE A a Z
a)
Acordar sempre cedinho
De Deus lodo me lembrar
O primeiro copo d’agua
Para meu corpo hidratar
Higiene inicial
Depois vou para o quintal
E começo a exercitar.
b)
Bem de leve não me canso
O tempo passa de pressa
Daluz me chama pra mesa
Eu acho que a hora é essa
Fui lá comi o que pude
Nos limites da saúde
Que a saúde é o que interessa.
c)
Cuido de tomar meu banho
Para revitalizar
Consulto na minha Agenda
O paço que devo dar
E Daluz com seu assédio:
Venha tomar seu remédio
Você tem se cuidar.
d)
De repente eu me lembrei
Que não cuidei do Jardim
Quem cuidava era ela
Mas eu avoquei pra mim
Vi que a mulher tem razão
Casa não é mole não
Trabalho nunca tem fim.
e)
Então vou para o jardim
Podo ali, podo acolá,
Abro a torneira de leve
Aguo o que é pra aguar
Em jardim sou amador
Mas eu faço com amor
E a nota a família dar.
f)
Fiz tudo isso e o relógio
Avisando que ainda é cedo
E vejam que eu produzi
É sério, não é brinquedo,
Seja eu, seja você,
Qualquer um pode fazer
Veja que não tem segredo.
g)
Guardo as poucas ferramentas
Que usei até então
Tomo banho, faço um lanche,
Bebo água, lavo as mãos,
E como válvula de escape
Abro o face e WhotsApp
Meios de comunicação.
h)
Humildemente aproveito
Quando estou inspirado
E ligo o computador
Pra mandar algum recado
Ou sério ou na brincadeira
Às vezes só de zoeira
Em prosa e verso rimado.
i)
Isso pra mim me distrai
Esqueço o que é doença
Já é quase meio dia
Chega Nena: Painho, bença!
Mas eu estou distraído
Desligado de moído
Nem noto a sua presença.
j)
Já ia até me esquecendo
Que hoje aqui tem almoço
Ela volta resmungando
E eu faço que não ouço
Porque ela é boazinha
E quando tá na cozinha
Se atola até o pescoço.
l)
Lavo as mãos, sento-me à mesa
A comida está gostosa
Eu procuro algum defeito
Pra Nena ficar nervosa
E Bethânia ali sentada
Na cozinha não faz nada
Lá num canto toda prosa.
m)
Mas é tudo uma beleza
Um ambiente de paz
Eu sou um cara feliz
O que tenho me satisfaz
Sou alegre e satisfeito
Levo a vida desse jeito
Deus fez e ninguém desfaz.
n)
Nisso eu olho no relógio
De treze horas já passa
Ligo uma televisão
Tudo que vejo é sem graça
Na minha rede adormeço
E é bom porque esqueço
Que aquilo só tem desgraça.
o)
Ocorre que eu não tenho
Hábito de dormir de dia
Em um instante me acordo
Fico naquela agonia
Só me aquieto quando vou
De novo ao computador
Fazer prosa e poesia.
p)
Passo uma aguinha nas mãos
Ensaboo bem direitinho
Faço um lanche, bebo água,
Sento lá no meu cantinho
E dano o pau a escrever
Como vocês podem ver
Eu escrevo até certinho.
q)
Quando estou fazendo isso
Vem um pouco de euforia
Fico escrevendo e curtindo
Por ser da minha autoria
Quanto mais tempo mais quero
E quando menos espero
Dou fé acabou-se o dia.
r)
Realizado eu me sinto
Vou tomar banho e jantar
Dou alguns telefonemas
A TV volto a ligar
A família aqui por perto
Esse carinho é por certo
Causa do meu bem estar.
s)
Sou tranquilo e comedido
Com o que está acontecendo
Não acredito na mídia
Que divulga distorcendo
Tudo isso vai passar
Eu prefiro descartar
Os excessos que estou vendo.
t)
Todo mundo fique em casa
Como já estamos ficando
Socialmente isolados
Resta saber até quando
Os pressentimentos meus
É esperar com fé em Deus
Pois ele está no comando.
u)
Unidos na Sua Fé
Chegaremos à vitória
Tudo isso há de passar
E virão dias de glória
Na minha concepção
Essa nossa provação
Vai marcar muito a história.
v)
Voltando ao de “A a Z”
Sobre a minha quarentena
O difícil é mais fácil
Quando a gente coordena
O dia já terminou
Eu ainda aqui estou
E acho que valeu a pena.
x)
Xingar, não xinguei ninguém
Falei só do que interessa
Ficar em casa é preciso
Por enquanto vamos nessa
Faça do jeito que eu fiz
Uma quarentena feliz
Menos risco e menos pressa.
z)
Zelar por nossa saúde
Depende muito da gente
A vida pertence a Deus
E nunca foi diferente
Termino o dia feliz
E tudo isso que hoje fiz
Repetirei novamente.
8 Comentários
Meu amigo tomara que o Basinho não morra de praga !
Parabéns por essa prosa tão bonita de um jeito sutil como aparenta ser o escritor, com uma vida regrada ao amor a vida é a família.
Retificando erro de digitação no 2º verso da letra a): “De Deus (no lugar de ‘lodo’, logo) me lembrar”
Basto, na minha opinião, o passeador de cães “ENRABOU” o velho Chico Buarque.
Penha querida, e hoje existem também muitos “passeadores”, que comem muitos cus de figuras altas das sociedade
Bazinho tem essa rotina a 03 semanas sem tomar uma lapada de cana, me engana que eu gosto.
Segundo a mídia o exercito estaria fazendo levantamento de vagas em cemitérios. Dizem que já teriam feito tal levantamento nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Até aí dar para entender a preocupação.
Mas hoje há a noticia de que teriam procurado o setor funerário atrás de dados sobre o número de mortos por Ckvid-19, sem dar explicações.
Dizem que representante do setor teria perguntado o porquê do interesse.
Quem mais teria interesse em tais dados além do Bolsonaro?
Ele estaria querendo saber por quantas vidas responderá nas Cortes Internacionais?
Eu acho que é assim mesmo Penha, depois de orgias, da maconha, do pó e seus derivados, só resta a essa galera dá o “caneco”.