Destaques

DOMINGUEIRAS DO TIÃO

19 de abril de 2020

COMEÇANDO COM CHICO BUARQUE

Abro as Domingueiras com este trecho do novo livro de Chico Buarque, “Essa Gente”, somente porque hoje é domingo:

DESCENDO a ladeira emparelhei com um passeador de cães que me parece novo no bairro. É um mulato franzino que conduz e é conduzido por uma dezena de cães, entre os quais o labrador de dona Maria Clara. Dona Maria Clara tinha ido ao médico com o filho e não havia ninguém em casa para receber o animal. O porteiro se recusava a ficar com ele, que era capaz de sujar a portaria, apesar de o passeador lhe mostrar o saquinho de plástico cheio de cocô. Anoiteceu quando subo a ladeira de volta e vejo o rapazola sentado no meio-fio com o labrador, já tendo certamente devolvido os outros cães. Chego em casa, escrevo estas parcas linhas, abro um vinho, esquento um suflê e vejo futebol na televisão. Vou me deitar para lá de meia-noite, tenho sono, mas não consigo dormir. De pijama pego o carro na garagem, desço a ladeira de ré, encontro o passeador sentado com o cão no mesmo lugar e o faço subir no banco traseiro. No apartamento, depois de me farejar entre as pernas, o cão se esparrama no chão da cozinha e rejeita a ração de gato que lhe ofereço. Ao passeador ofereço uma Coca-Cola e um resto de suflê frio que ele aceita com gosto. Fica todo agradecido por poder ver televisão e dormir no sofá da sala. Depois pergunta se tem de comer meu cu.

GILVANZINHO

Esse trecho me fez lembrar outro trecho, só que do meu livro “O Lado Engraçado dos Políticos”. Gilvanzinho, funcionário da Assembléia, terminou o expediente e sentou num banco da praça João Pessoa para esprairecer. Apareceu o rapaz do amendoim, Gilvan comprou um pacote só pra ajudar e perguntou quantos ele vendia por noite. Depois quis saber da vida do rapaz. Ficou sabendo que ele era casado, tinha cinco filhos e vivia do que vendia.

-Mas você consegue sustentar essa família toda com esse dinheiro do amendoim?

-Bem doutor,conseguir não consigo, a sorte é que de vez em quando aparece um cuzinho para eu comer…

 

A CARREATA DA MORTE

Leiam esta matéria:


Revista Fórum –
 A carreata promovida por bolsonaristas contra o governador de São Paulo, João Doria, decidiu fazer um grande buzinaço e parar o trânsito justamente em frente ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC), na capital paulista.

Vídeos publicados por apoiadores do presidente mostram pessoas descendo o carro e fazendo muito barulho ao passar pelas quadras da Av. Rebouças que reúnem os prédios do HC. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas fica na mesma região.‌‌‌

Na última semana, o HC montou uma mega-operação para remanejar pacientes e esvaziar 900 leitos para atender exclusivamente a demanda em razão do surto do novo coronavírus. Já o Emílio Ribas, referência em imunologia no Brasil, está com 100% dos leitos ocupados com pacientes de Covid-19.

Agora comparem com esta fala do presidente, já publicada anteriormente por Tereza Cluvinel:

“Nas últimas horas, em duas falas, Jair Bolsonaro foi o mais explícito possível quando ao seu plano macabro para o Brasil na pandemia: que o isolamento social acabe, a vida volte ao normal e morram quantos tiverem de morrer.”

Compararam? Então concordem comigo: Estamos fudidos.

 

QUEREM MATAR RENAN FILHO

A Polícia Civil de Alagoas abriu inquérito neste sábado (18) para investigar o áudio de um empresário sugerindo a união de donos de loja para “dar um tiro” no governador do estado, Renan Filho (MDB), por causa das medidas de isolamento social.

O empresário gravou o áudio após uma suposta conversa com o diretor do shopping onde ele tem o empreendimento, em Maceió. “O negócio é, se a gente não se juntar pra dar um tiro nesse filha da puta desse governador, melhor a gente ficar em casa mesmo cordeirinho, como a gente está, vivendo numa ditadura”, diz o aúdio, de acordo com reportagem do UOL.

 

A QUARENTENA DE GERBASE

Sebastião Gerbase, o Basinho, contou em versos como está enfrentando a quarentena:

MINHA QUARENTENA DE A a Z

a)

Acordar sempre cedinho

De Deus lodo me lembrar

O primeiro copo d’agua

Para meu corpo hidratar

Higiene inicial

Depois vou para o quintal

E começo a exercitar.

b)

Bem de leve não me canso

O tempo passa de pressa

Daluz me chama pra mesa

Eu acho que a hora é essa

Fui lá comi o que pude

Nos limites da saúde

Que a saúde é o que interessa.

c)

Cuido de tomar meu banho

Para revitalizar

Consulto na minha Agenda

O paço que devo dar

E Daluz com seu assédio:

Venha tomar seu remédio

Você tem se cuidar.

d)

De repente eu me lembrei

Que não cuidei do Jardim

Quem cuidava era ela

Mas eu avoquei pra mim

Vi que a mulher tem razão

Casa não é mole não

Trabalho nunca tem fim.

e)

Então vou para o jardim

Podo ali, podo acolá,

Abro a torneira de leve

Aguo o que é pra aguar

Em jardim sou amador

Mas eu faço com amor

E a nota a família dar.

f)

Fiz tudo isso e o relógio

Avisando que ainda é cedo

E vejam que eu produzi

É sério, não é brinquedo,

Seja eu, seja você,

Qualquer um pode fazer

Veja que não tem segredo.

g)

Guardo as poucas ferramentas

Que usei até então

Tomo banho, faço um lanche,

Bebo água, lavo as mãos,

E como válvula de escape

Abro o face e WhotsApp

Meios de comunicação.

h)

Humildemente aproveito

Quando estou inspirado

E ligo o computador

Pra mandar algum recado

Ou sério ou na brincadeira

Às vezes só de zoeira

Em prosa e verso rimado.

i)

Isso pra mim me distrai

Esqueço o que é doença

Já é quase meio dia

Chega Nena: Painho, bença!

Mas eu estou distraído

Desligado de moído

Nem noto a sua presença.

j)

Já ia até me esquecendo

Que hoje aqui tem almoço

Ela volta resmungando

E eu faço que não ouço

Porque ela é boazinha

E quando tá na cozinha

Se atola até o pescoço.

l)

Lavo as mãos, sento-me à mesa

A comida está gostosa

Eu procuro algum defeito

Pra Nena ficar nervosa

E Bethânia ali sentada

Na cozinha não faz nada

Lá num canto toda prosa.

m)

Mas é tudo uma beleza

Um ambiente de paz

Eu sou um cara feliz

O que tenho me satisfaz

Sou alegre e satisfeito

Levo a vida desse jeito

Deus fez e ninguém desfaz.

n)

Nisso eu olho no relógio

De treze horas já passa

Ligo uma televisão

Tudo que vejo é sem graça

Na minha rede adormeço

E é bom porque esqueço

Que aquilo só tem desgraça.

o)

Ocorre que eu não tenho

Hábito de dormir de dia

Em um instante me acordo

Fico naquela agonia

Só me aquieto quando vou

De novo ao computador

Fazer prosa e poesia.

p)

Passo uma aguinha nas mãos

Ensaboo bem direitinho

Faço um lanche, bebo água,

Sento lá no meu cantinho

E dano o pau a escrever

Como vocês podem ver

Eu escrevo até certinho.

q)

Quando estou fazendo isso

Vem um pouco de euforia

Fico escrevendo e curtindo

Por ser da minha autoria

Quanto mais tempo mais quero

E quando menos espero

Dou fé acabou-se o dia.

r)

Realizado eu me sinto

Vou tomar banho e jantar

Dou alguns telefonemas

A TV volto a ligar

A família aqui por perto

Esse carinho é por certo

Causa do meu bem estar.

s)

Sou tranquilo e comedido

Com o que está acontecendo

Não acredito na mídia

Que divulga distorcendo

Tudo isso vai passar

Eu prefiro descartar

Os excessos que estou vendo.

t)

Todo mundo fique em casa

Como já estamos ficando

Socialmente isolados

Resta saber até quando

Os pressentimentos meus

É esperar com fé em Deus

Pois ele está no comando.

u)

Unidos na Sua Fé

Chegaremos à vitória

Tudo isso há de passar

E virão dias de glória

Na minha concepção

Essa nossa provação

Vai marcar muito a história.

v)

Voltando ao de “A a Z”

Sobre a minha quarentena

O difícil é mais fácil

Quando a gente coordena

O dia já terminou

Eu ainda aqui estou

E acho que valeu a pena.

x)

Xingar, não xinguei ninguém

Falei só do que interessa

Ficar em casa é preciso

Por enquanto vamos nessa

Faça do jeito que eu fiz

Uma quarentena feliz

Menos risco e menos pressa.

z)

Zelar por nossa saúde

Depende muito da gente

A vida pertence a Deus

E nunca foi diferente

Termino o dia feliz

E tudo isso que hoje fiz

Repetirei novamente.

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8 Comentários

  • Reply Mestre Chico Barão 19 de abril de 2020 at 06:56

    Meu amigo tomara que o Basinho não morra de praga !

  • Reply Adenilson 19 de abril de 2020 at 06:57

    Parabéns por essa prosa tão bonita de um jeito sutil como aparenta ser o escritor, com uma vida regrada ao amor a vida é a família.

  • Reply Sebastião Gerbase 19 de abril de 2020 at 07:12

    Retificando erro de digitação no 2º verso da letra a): “De Deus (no lugar de ‘lodo’, logo) me lembrar”

  • Reply Penha 19 de abril de 2020 at 08:59

    Basto, na minha opinião, o passeador de cães “ENRABOU” o velho Chico Buarque.

    • Reply Zefirino 19 de abril de 2020 at 15:43

      Penha querida, e hoje existem também muitos “passeadores”, que comem muitos cus de figuras altas das sociedade

  • Reply Ednaldo bezerra falcão 19 de abril de 2020 at 12:41

    Bazinho tem essa rotina a 03 semanas sem tomar uma lapada de cana, me engana que eu gosto.

  • Reply Angela 19 de abril de 2020 at 13:31

    Segundo a mídia o exercito estaria fazendo levantamento de vagas em cemitérios. Dizem que já teriam feito tal levantamento nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
    Até aí dar para entender a preocupação.

    Mas hoje há a noticia de que teriam procurado o setor funerário atrás de dados sobre o número de mortos por Ckvid-19, sem dar explicações.
    Dizem que representante do setor teria perguntado o porquê do interesse.

    Quem mais teria interesse em tais dados além do Bolsonaro?

    Ele estaria querendo saber por quantas vidas responderá nas Cortes Internacionais?

  • Reply SIMPLICIO 19 de abril de 2020 at 15:22

    Eu acho que é assim mesmo Penha, depois de orgias, da maconha, do pó e seus derivados, só resta a essa galera dá o “caneco”.

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