Foto anônimo
E POR FALAR EM SAUDADE…
Um passeio pela parte velha de João pessoa em plena manhã de domingo pode representar uma volta ao passado e o surgimento de um turbilhão de saudades até mesmo para quem não viveu nos tempos de antigamente. E se o passeio for pela velha Maciel Pinheiro de tantas aventuras e travessuras, então pode ter certeza de que a saudade bate dentro do peito e o um nó misterioso surge na garganta.
Foi num desses domingos que avistei aquele senhor de cabelos brancos, ombros meio arreados, olhar perdido nas cumieiras dos casarões. Olhava os sobrados velhos como se quisesse desenterrar os fantasmas que o progresso engoliu, as quengas bem vestidas que satisfaziam as vontades dos abastados e dos menos afortunados, porque quenga de antigamente não se julgava nem discriminava os lisos.
Nem precisei puxar conversa. Ele próprio começou a falar como se me conhecesse dos velhos tempos.
-Aquela era a casa de Hosana, a mais famosa e mais elegante de todas as raparigas. Ali só entrava quem tivesse bom guardado. Só tinha vez de desembargador pra cima. Usineiro tinha dinheiro, mas precisava tomar banho para se achegar a uma das meninas. E que meninas! Vestiam longos, renovavam os guarda-roupas todos os sábados e sabiam dançar as valsas que Dedé, no saxofone, tocava durante as tertúlias.
Foi nessa casa que o jovem Sabino Ramalho, depois de receber gorda mesada dos pais, chegou acompanhado do primo Euclides Dias de Sá e, após entrarem, foram abordados por uma orgulhosa Hosana:
-Vocês querem o que?
-A gente quer se confessar. O padre já chegou? – respondeu um Euclides abusado e com cara de rico.
O mais assíduo freqüentador de Hosana era o desembargador Júlio Rique. Ficou famosa a festa de seu aniversário, realizada ali, reunindo a fina flor masculina da sociedade pessoense. Todos de ternos impecavelmente engomados, tomando uísque depositado nas toalhas brancas de algodão, uma cadeira colocada no centro do salão para receber o aniversariante. Eis, finalmente, que adentra ao local o desembargador, trajando cueca samba canção e paletó de diagonal branco. Sobe na cadeira e, emocionado, discursa:
-Raparigal da minha terra!
Depois de Hosana, visitava-se Lourdinha da Royal, Laura, o Night Cassino e Antonina, que não perdiam em elegäncia, animação e belas mulheres para Hosana. Foi em Antonina que Oscar, um sertanejo de Santana dos Garrotes que vivia por aqui estudando, se encontrava em companhia de uma bela moça, quando na mesa ao lado sentou-se um usineiro. O tal, que trazia consigo um capanga confiou no poder do dinheiro e começou a chamar a companheira de Oscar para sua mesa. Diante da insistência, Oscar perguntou se a moça queria ir. Como ela disse que não, foi até lá e pediu respeito. O jovem usineiro levantou-se querendo briga e Oscar o fez sentar-se com três tiros de bereta no peito, para nunca mais se levantar.
No Night Cassino a principal atração, tirando as meninas, era o saudoso coronel Belmont, que tocava sax para animar a festa.
O cabaré da Maciel Pinheiro era tão forte que se rebelou contra o então governador Zé Américo, por ter ele determinado, em 1954, o fechamento da zona depois da meia noite. E não foram só as putas que comandaram a revolta. Figurões da sociedade portaram bandeiras e estandartes, até que o sisudo Zé revogou o seu ato.
A CURVA
Naquela época, o principal transporte da zona para os bairros era o bonde. E foi nesse bonde que o gaiato Zé de Ivo, que se dirigia a Cruz das Armas, ouviu o motoneiro gritar “Olha a curva!” e viu todo mundo se levantar. Decidiu que, no dia seguinte, quando o grito saísse e todos se levantassem, permaneceria sentado.
Dito e feito. Na curva que existia perto do quartel do 15, o motoneiro gritou, o povo se levantou e ele, o gaiato Zé de Ivo, permaneceu sentado. Foi mais ou menos assim:
-Olha a curva!
-Ai meus ovos! – gritou Zé, sentado no seu canto, ouvindo de lá o motoneiro dar o aviso:
-Agora se agüente até terminar a curva.
Zé soube depois, enquanto botava os ovos inchados numa bacia de gelo, que o motoneiro gritava pela curva para que o povo se levantasse e não tivesse os pissuidos presos pelas tábuas dos bancos, que se comprimiam e somente se abriam quando o bonde deixava para trás a inclinação.
6 Comentários
Tião, vou te incomodar mais uma vez: a foto é da av. Cruz das Armas? Deve ser dos anos 50s, não? O carro que aparece suponho que seja o famoso Ford bigode, ou não?. (Não se preocupe que eu não vou perguntar quem era o dono do carro).
1. O “El País ” publicou pesquisa que mostra o Gulherme Boulos (PSOL) em 2o lugar na disputa em São Paulo.
Ontem o candidato do PT conseguiu o apoio de figuras importantes do partido .Mas pode ser tarde! Mesmo porque nem com todo tato, o Jilmar Tattoo tem a empatia que o Boulos tem.
2. E o Marcelo Freixo (PSOL), ontem, disse não à tentativa de pressiona-lo a assumir a candidatura a prefeito do Rio de Janeiro.
Para mim, ele optou por continuar vivo.
Especialmente agora que, depois de 10 anos, o assassinato do irmão foi desvendado. E o mandante do assassinato da sua ex-assessora Matielle Franco continua sendo um mistério.
3. O PCdoB e o PT se coligaram em Porto Alegre, com a Manuela D’avila na cabeça da chapa, e em São Luiz com o deputado federal Rubens Junior , como candidato a prefeito. Tanto Manuela como Rubens Junior são do PCdoB.
Tião, faltou você dizer que o cobrador do bonde era o trepidante Enoque Pelágio. Lembro muito dele como cobrador. Usava uma farda cáqui e um boné de pano e pala de plástico preta. Usava também uns óculos escuros.
O candidato favorito dos evangélicos para a vaga do STF seria William Douglas Resinente dos Santos, juiz titular da 4a Vara Federal de Niteroi-RJ.
Ele é pregador na Igreja Batista e de outras denominações. E já teria sido indicado a Bolsonaro pelo pastor Silas Malafaia, com apoio de lideres da Assembléia de Deus, Igreja Batista, Igreja Fonte da Vida, Igreja Quadrangular, Igreja da Graça e M12.
Além de pregador, ele é também escritor. Seu livro mais conhecido entre os evangélicos é “As 25 Leis Biblicas do Sucesso”.
No relato dos cabarés, Tião esqueceu de mencionar o CABARÉ DE MARIA BUXIM, localizado na Rua da Areia próximo a fábrica de guaraná Dore.
EITA PÍULA TIÃO! Essas fotos são daquele antigo e sonhado VLT prometido por AVENZOAR ARRUDA, na distante era que fora candidato a prefeito? Oh desgraça! Parece até promessa de ateu, que não vale de nada porque não se pode ter fé alguma.
Espero que nesta eleição municipal de 2020 não apareça estes esculachos do ilusionismo.