COQUINHO
Coquinho era o flandeleiro mais afamado do lugar. Praticamente não tinha competidor, fosse pela eficiência no trabalho, fosse pelo preço cobrado ao cliente, sempre o mesmo, sem nunca subir, sem jamais mudar.
Na sua oficina, perto do silo de Zépereira e nos fundos do convento dos padres, ele fazia de um tudo. Soldava buracos em marmita,botava fundo novo em panela, adaptava lata de querosene para servir de galão, colocava azeia em caçarola e em caneco de alumínio, ninguém entrava na oficina dele para sair sem solução.
E o precinho servia de chamariz.
Pequeno, magro, barba por fazer, um chapéu de abas curtas cobrindo a cabeça de escassos cabelos, parecia uma figura comum, sem atrativos além da arte que lhe chegara do berço, sem necessidade de escola ou professor.
Não bebia, também não fumava. A maturidade o alcançara sem o tradicional casamento para construção de família, com mulher, filhos e netos ao redor da mesa. Era solteirão, vivia com umas irmãs também solteironas e cobria as despesas da casa com seus remendos a “destões” cada.
Mas tinha um fraco: Dió.
Branca, desdentada, cachaceira, rapariga do cabaré de má fama, Dió era a paixão de Coquinho. Por ela se derretia, gastava os “destões” dos apurados, vendia, se preciso, a roupa do corpo para lhe agradar.
Só que Dió tinha uma mania reprovada pela vizinhança de Coquinho: Bebia. E quando enchia a cara, escandalizava em praça pública, gritava, caía de pernas para o alto, tirava a roupa, chamava nomes feios.
Coquinho a tudo assistia e nada dizia. O amor falava mais alto. Dió era o seu amor.
Bem comportado, só teria saído da linha uma vez e isso mesmo na versão de terceiros, sem prova do crime ou testemunho de gente séria.
Uma venerável senhora da sociedade teria entrado na oficina para perguntar quanto lhe custaria um fundo novo na sua lata de carregar água.
– “Destões” -, foi a resposta de Coquinho.
A senhora, que apesar de rica gostava de pechinchar, fez nova pergunta:
– E se eu der o fundo?
– Aí eu boto de graça.
NIVER DE MARCOS RAMALHO
A família se reuniu para abraçar o patriarca Marcos Ramalho, que interou nova idade no meio desta semana. Cabra bom, cabra arretado, nos conhecemos durante uma excursão ao velho mundo e desde então fizemos questão de preservar essa amizade. Que muitos aniversários aconteçam por infindáveis anos.
O AMIGO GILSON
O sobrenome eu não sei, o conheço por Gilson, o homem das motos, daí o Gilson Motos, companheiro de eternas tertúlias na pracinha do skate, no buteco da viúva, eu ele e João do Carvão, tomando umas e tirando o gosto com bode guisado, galinha ou muela.
Esta semana, depois de longo e tenebroso inverno, dei uma passadinha lá e reencontrei o velho amigo. Por alguns minutos conversamos e ainda deu tempo para engolir a saideira.
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