Faz tempo que não participo daquele almoço domingueiro do Dia das Mães. Nem sei contar mais quantos anos se passaram. Só sei que, quando ela se foi, Burity ainda era vivo, pois compareceu ao velório. E que Edmilson perdeu o enterro porque estava internado no hospital de Italo Kumamoto.
Ela morreu sozinha, numa enfermaria de Hospital. Na visita do domingo, pediu pra ir embora. Já não falava, apenas o balbuciar de sua boca implorava para deixar aquela cama de enfermaria e ir embora. Fiz ver a ela que seria mais indicado a sua permanência. E ela aceitou os argumentos, como aceitava tudo que lhe diziam. Minha mãe jamais contestou nada. Era conformada com tudo e tudo fazia para agradar aos outros.
Quando a segunda-feira se anunciou, pelo toque do telefone adivinhei que chegara a hora. Dona Emília se fora, depois de meses e meses em cima de uma cama, vítima de AVC.
Ela começou a morrer de fato anos e anos antes. Primeiro com a morte de papai, seu companheiro de toda uma vida. Depois com a morte de Carlinhos, sua companhia de viuvez, o único filho solteiro, aquele que morava com ela.
Apenas esperou chegar a hora, conformada, calada, sorrindo quando chegávamos para visitá-la, o olhar triste quando se anunciava a despedida.
De há muito cessaram os almoços de feijão verde com galinha de capoeira. Os filhos, sempre atarefados, deixavam para os domingos seguintes os reencontros de antigamente, quando se sentavam ao redor da mesa e comiam a se fartar, enquanto ela cantava modinhas de tempos outrora ao som do cavaquinho de José, o mais velho que também já se foi.
Até que chegou aquela boca de noite em que, visitando a filha que morava em frente, caiu sobre a poltrona e nunca mais se levantou.
E agora, passados os anos, cumpro o doloroso dever de comunicar que daria tudo o que tenho para recomeçar aqueles encontros afetivos dos finais de semana ao lado da dona Emília que cantava para quebrar nossas saudades e enchia nossos buchos com o seu tempero inigualável.
2 Comentários
Eita, Tião!…
De novo? Mas eu já esperava! Dia das mães, dos pais, natal…lá vem você, com o seu natural e nobre sentimentalismo de poeta sertanejo, paisagista da alma, a nos lotar com textos que transbordam emoções, lirismo, verdades extraídas do sumo do coração. Já espero esses dias – acordo cedo – e logo reforço meu estoque de lenços! Que maravilha!
Deus te abençoe e te recompense por nos inundar de tantas belezas.
Fico sem palavras neste dia. Então fico com as palavras do amigo ai em cima. Manoel clementino.