Duas vezes STF

Marcos Pires

Estamos perdendo contato com os escândalos que nos assolam. Ninguém fala mais em João de Deus, os mortos de Brumadinho são mera estatística e os atletas do Flamengo caminham para o esquecimento.

Certos fatos, entretanto, mesmo sem a dimensão das tragédias, não podem ser esquecidos sob pena do Brasil virar pó. O país foi surpreendido essa semana por declarações de um Ministro do STF, que além de reclamar de uma suposta investigação da Receita Federal contra ele e sua esposa, denunciou que um colega estaria sendo chantageado.

Noves fora ninguém estar acima da lei, uma investigação da RF é salutar para mostrar a idoneidade do investigado. No caso de Sua Excelência até o capitão foi mobilizado para dar um freio de arrumação no chefe da Receita.

Mas fica pior ainda quando ele diz que um colega está sendo vítima de chantagem.

Como assim? Chantagem só é feita quando se ameaça alguém acerca da divulgação de um ato praticado ao arrepio da lei, pois não? Ao não nominar quem é o Ministro, põe em suspeição toda a Corte. A sociedade merece explicações para que de futuro não se repita a história ocorrida no segundo governo Vargas, que precisava preencher uma vaga naquele mesmo STF.

O Presidente reuniu seus conselheiros e lançou o nome de um antigo auxiliar que em seu primeiro governo havia sido Presidente da Casa da Moeda.

Esse cidadão protagonizara um espetáculo incrível quando foi procurado por alguns vivaldinos que lhe deram uma mala cheia de dinheiro para obter vantagens. O cidadão foi à imprensa e denunciou a propina. No dia seguinte os jornais trouxeram fotos da grana e elogiaram o servidor.

Ocorre que passado muito tempo, aquela história de honestidade virou contra ele. É que na hora dos áulicos de Getúlio referendarem seu nome para o STF, alguém matou: “- Sei não, Presidente, mas eu lembro que esse cidadão esteve envolvido numa história de uma mala de dinheiro…saiu em todos os jornais da época”.

Por isso é necessário que o Ministro esclareça o que insinuou. No entanto, o que se vê é o T.C.U., aquele repositório de Ministros insuspeitos, abrindo investigação contra quem ousou investigar a Excelência.

Ah, Brasil!