Marcos Pires
Primeiro foram os caminhoneiros protestando contra os preços dos combustíveis. Motoristas de uber, taxi e até moto taxistas entraram no embalo. Não se sabe vindos de onde nem bem porque, várias tribos de índios decidiram engrossar o caldo, interrompendo todo o trafego (em ambos os sentidos) na avenida Epitácio Pessoa, das mais importantes da capital paraibana.
Retido naqueles engarrafamentos enormes que se formaram, liguei o rádio para obter alguma informação. O repórter entrevistava alguém que estava próximo à Ceasa e fazia uma convocação a todos os comerciantes de tomate para irem às ruas, porque a greve dos caminhoneiros não deixava chegarem ao destino as caixas de tomate que serviriam para esse recém-nascido líder tomateiro e seus seguidores tocarem a economia nacional.
Fiquei imaginando o tamanho da crise que estava se formando. Quando a (ou será O) tomate passa a ser razão para uma categoria ir às ruas é porque a coisa estava ficando séria. Imaginei logo que o pessoal da pizza iria aderir ao movimento, porque pizza sem molho de tomate é igual a Buchecha sem Claudinho ou eu sem vocês, meus quatro leitores.
Mudei de estação e o locutor narrava o caos na cidade. Pelo que entendi a única coisa em movimento era a notícia. Índios, tomateiros, caminhoneiros, taxistas… qual seria o próximo segmento a se manifestar?
Fui arrancado dos meus devaneios pelo galã monteirense Mozart, que se acha a cara do ator Antony Hopkins. Ao telefone ele queria saber se no embalo das reivindicações cabia rediscutir o desconto de onze por cento em favor da previdência social que o Supremo Tribunal Federal aplicara às aposentadorias e pensões. No meu entender não cabia mais porque além do largo prazo que decorrera desde a decisão, tratava-se afinal da maior corte de justiça do país. Não havia para quem recorrer. Pois não é que o sapeca me perguntou se caberia então fazer uma greve? Como assim, greve de aposentados? Mas vem cá, vocês já não fazem nada, no que iriam impactar a economia nacional com esse movimento, ou melhor, sem movimento? “- Aí é que você se engana, Marcos; nós somos uma das maiores forças do país. Se deixarmos de comprar remédios todo o setor de farmácia e mesmo a indústria de medicamentos quebra. Se deixarmos de ir às nossas consultas médicas os médicos vão falir”.
Fiquei tentado a dizer que se os idosos não forem aos médicos nem comprarem seus remédios, irão morrer. Mas já estaria entrando no setor dos donos de funerária e coveiros, que por enquanto ainda não tem planos de aderirem ao movimento nacional.
1 Comentário
Kkkkk muito bom.