Memórias

E era assim o nosso natal

21 de dezembro de 2021

O nosso mundo era simples, quase não havia luzes coloridas enfeitando o céu. Quando muito um balão singrava o espaço e era derrubado pelo fogo de lágrimas disparado por Pedro Fogueteiro. A meninada festejava a queda do balão, que descia ladeira abaixo, do céu pra terra, jogando no ar pedaços de fogo.

No meio da rua principal barracas de pau a pique, cobertas com palhas de coqueiro, funcionavam como bares e lanchonetes. Ao redor delas, as mocinhas passeavam cheias de amor pra dar e os rapazes ansiavam pelos olhos da menina moça a cata do primeiro namorado.

As canoas e a roda gigante de Manezim Cristóvão convocavam os rapazes mais afoitos, que faziam acrobacias sem precisar de cintos de segurança para impressionar as namoradas.

E lá na frente do convento o vigário abria o pavilhão para a fina flor da sociedade gastar dinheiro arrematando galinhas do pé seco assadas no forno da padaria de Rafael Rosas.

Tinha o pastoril, a disputa entre o azul e o encarnado, as meninas belas cantando e dançando, a Diana comandando a dança e as torcidas organizadas gritando os nomes de suas preferidas.

O clube principal da cidade fazia o baile depois do leilão. Manoel Marrocos, com o seu  saxofone mágico, entoava a Moraria de Angela Maria, e Antonio Gordão deslizava pela pista levando Anita em seus braços ao som do bolero.

Quem não dançava ali por falta de pedigree social, socorria-se do bolo doce de Manoel Tocador nas bibocas dos arrabaldes, pagando cota de 10 cruzeiros . Manoel tocava o samba e João Caiti o acompanhava no pandeiro, enchendo de ritmo o salão que cheirava a suor e a promesa.

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