Saí em busca do meu passado e não encontrei nem os fantasmas. Vi casarões abandonados, calçadas sem transeuntes, bares que fecharam suas portas sem deixar vestígios, moças que perderam a mocidade e se transformaram em imagens esmaecidas.
Na Lagoa vi novos bancos e nova gente. Até o Cassino mudou de cara, está mais moderno, as janelas de vidro fechando o espaço e impedindo a entrada do cheiro do parque.
Um garçom apressado trazia um tambor de lixo para o carro da Prefeitura. Não trajava o paletó branco, tampouco usava a gravata borboleta de antigamente. Olhei pra dentro e não vi Bosco Gaspar a segurar o copo de uisque, Wellington Aguiar devorando o seu filé a la broche, Sílvio Porto degustando o vinho francês, Heitor Falcão fitando o copo de cerveja na dúvida se bebia antes de fumar. Não vi também o ministro Abelardo animando o ambiente com seu vozeirão de tenor.
Dali se via os comícios. A lagoa enchia de gente para escutar Raimundo Asfora declamar poesias em prosa.
O peito apertou mais ainda quando alcancei a Torre de minhas andanças juvenis e não reencontrei Penha, Nevinha, Nilda, Eleika, Odésia, Oneide, Lula, Manduka, Bá, Genebaldo, Carlos, Manezinho, Normando, Zélia, Fatão, Lúcia, Peninha, Seu Armando, Dona Maria, a moça misteriosa que vestia jeens e não dava bom dia aos olhos gulosos da rapaziada, a menina tímida que corria com medo do rapaz enxerido recém chegado do interior, o Bar de Raul, a barraca de Zeca, o Bar das Bichas Boas, o Cine Metrópole, o Bandeirantes, a Malandros do Morro, as mulatas com cheiro de samba, as raparigas em flor oferecendo sexo a tostões.
Mudou tudo, Seja pela morte, seja pela velhice. E eu me flagrei velho.
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