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E já que o assunto é casamento…

20 de maio de 2018

Ontem o mundo ficou deslumbrado, o Brasil ficou mais ainda e a Paraíba, então, se encantou com a cerimônia de casamento do príncipe da Inglaterra com uma atriz americana.O dia inteiro só se falou nisso e disso. O tomara que caia da moça, o sorriso colgate dela, a barba ruiva do noivo, uma loucura. E a lua de mel, dizem, será coisa para ser contada nas histórias das mil e uma noites.

Quando eu casei, em 1978, também tive uma lua de mel daquelas.

Assim que Padre Trigueiro informou publicamente que eu e Dona Cacilda éramos marido e mulher, saímos da Igreja de Lourdes direto para o Ernani Sátyro, onde uma multidão de amigos e amigas nos esperava no terreiro para os comes e bebes. A casa do meu sogro Cabral era pequena, não comportava público, de modo que a festa se realizou do lado de fora, debaixo do poste.

Dali partimos, de táxi, para o Hotel Tropicana, onde dormiríamos nossa primeira noite.

Eu já estava triscado. Antes do casamento, dera uma parada estratégica no Cassino da Lagoa com o velho Miguel Fotógrafo, e, lá, derrubamos uma caixa de brahma da antarctica. Na casa de Cabral secamos o estoque de cana e cerveja guardado na velha bodeguinha do Jardim Sepol. Ainda no percurso para o hotel, nossos acompanhantes Ba, Eleika, Genebaldo, Zélia e Normando, nos intimaram a tomar a saideira no Azulzinho da Vasco da Gama, de modo que já cheguei quase pronto no Tropicana.

Ana Paula, a bela voz da Tabajara, nos esperava na recepção. Fez aquela festa, nos acompanhou até o apartamento e nos desejou felicidade. Lá dentro do quarto, pedi para tomar banho primeiro, enquanto Dona Cacilda se arrumava. Demorei uns 15 minutos no banheiro e, ao sair, quase mato a mulher de espanto. Parecia um fantasma com talco da cabeça aos pés.

-Que diabo é isso, homem de Deus? -, perguntou Dona Cacilda. E eu, com jeito de esperto: -É o talco do hotel, mulher, nós temos que aproveitar!”.

-Que do hotel que nada, seu idiota, esse é o meu talco que eu uso depois do banho!”, revelou desconsolada.

Tivemos nosso primeiro prejuízo.

Dona Cacilda foi tomar banho, eu me deitei vendo a tv e peguei no sono. Acordei com umas batidas na porta. Os da recepção escutaram os gritos da minha mulher, trancada no banheiro, a maçaneta arrancada, ela suando de bica e eu dormindo sem ouvir nada.

Os porteiros pensavam que nós estávamos brigando.

Assim mesmo terminou a noite, no dia seguinte tomamos aquele café da manhã e rumamos para a rodoviária velha, onde pegamos o Nacional de Luxo para Princesa, onde aconteceria nossa lua de mel propriamente dita.

Na casa do Véi Migué e Dona Nila nos deram o quarto do meio, que era separado do quarto das meninas por um guarda roupa. Minha irmã caçula, já enxerida apesar de pequena, ficava o tempo todo brechando por baixo do guarda roupa, tentando ver a novidade. Nos deram uma cama de mola rangedeira que fazia uma zoada danada a qualquer movimento, de modo que, nos cinco dias que por lá passamos, se alguma camaradagem fizemos, foi na surdina dos escondidos.

Bem, isso aconteceu há 40 anos. O mundo deu muitas voltas, muitas voltas ao redor do mundo demos, vieram os filhos, os netos, os cabelos brancos, as rugas, as dores nas juntas, a vista curta e as filas preferenciais, mas continuamos juntos. E achando bom.

 

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6 Comentários

  • Reply MARGARIDA 20 de maio de 2018 at 08:33

    Que trapalhada danada. Coitada da noiva, ir para a noite de núpcias com o noivo embriagado e fedendo a tira gosto de sardinha com farofa. Bastião deve ter passado a noite inteira peidando.

  • Reply Neci Lucena 20 de maio de 2018 at 08:40

    Linda historia meu irmão, ano vcs?

  • Reply Lalo João Pessoa 20 de maio de 2018 at 08:59

    Sensacio0nal relato!!!

  • Reply Afonso Nunes dos Santos 20 de maio de 2018 at 12:47

    Caro Tião…Sertanejo as vezes nem conviveu com um outro, mas as “tiradas” da vida os fazem ser próximos parece anos, isso é o que me leva a admirá-lo apesar dos pouquíssimos contatos…Espetacular a narrativa, com certeza espelho de uma vida que tem valido a pena…Um abraço sertanejo Afonso.

  • Reply Angela 20 de maio de 2018 at 15:18

    Tião você é demais. Pense numa lua de mel fora dos padrões. No Hotel Tropicana, para a tão esperada primeira vez, “broxou”. Em Princesa Isabel, num quarto de meia parede com as irmãs brechando tudo. O que danado um casal recém casado vem fazer aqui em Princesa, num ônibus da Empresa Nacional de Luxo, engolindo poeira de Patos até aqui (naquela época a estrada ainda era de barro) ? Sinceramente, deve ter sido muito horrível demais para a noiva. Isso não foi uma lua de mel, foi um castigo !!!

  • Reply Matheus 21 de maio de 2018 at 12:46

    Kkkkkk lendo e me acabando de rir imaginado a cena.

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