Estou ficando cansado de tanto me despedir dos amigos.
A legião que formei desde os tempos de rapaz, hoje consigo contar nos dedos.
Eles se foram.
Estão habitando outras paragens, fizeram o caminho sem volta, debandaram para mundos desconhecidos, nunca mais deram notícias.
Toda semana morre um.
Hoje morreu Chico Rodrigues.
Chico de Dudu, assim o chamava.
Sorriso largo, simpatia em excesso, a cada encontro nosso um turbilhão de lembranças desfiado pela sua verve incontestável.
Através dele eu revia as aventuras dos tempos de músico, as presepadas de Chico Costa, as tiradas de Benedito de Rufina, os cochilos fora de hoa de Manoel Orestino, as dores da erisipela de Zé Vermelho, os pegas dos irmãos Chico e Mitonho, os dobrados tocados pela banda de música de Princesa e as serenatas repletas de saudades que embalavam os sonhos das mocinhas embevecidas pelo som maravilhoso do sax santo de Manoel Marrocos.
Aos poucos Princesa vai perdendo as referências.
Quem vai substituir Chico Rodrigues naquele trecho que ia da casa dele à bodega de Odívia, hoje também saudade?
Só restaram os fantasmas, as lembranças e o vazio enorme a tornar deserta a Rua Grande de tantos passeios, hoje igualmente morta, transformada num redemoinho de lojas e prédios mal ajambrados.
O nosso time está pequeno, magro, diminuto. E começo a pensar naquele que vai ficar por último, com a ingrata missão de fechar a porta e jogar a chave fora.
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