E mais um domingo se foi

Domingo é um dia muito solitário, apesar do futebol. Já foi diferente,mas nos tempos de agora a casa ficou maior. Os cômodos são os mesmos, mas os ocupantes foram ocupar outros espaços. Ficamos nós, eu e a mulher, num recomeço dos primeiros tempos sem o mesmo gosto, pois os anos tiraram do paladar aquela fome sem limites por um cantinho a sós para aplacar o fogo .

Passamos o dia vendo a TV e lanchando. A melancia quase foi embora, a laranja da semana está numa peínha de nada, há banana apenas para dois dias e se o doce não se foi, agradeça a Doutor Carlos Feitosa e a seu regime tirânico.

E chegou a noite. A rua lá na frente está silenciosa. Mais distante um carro dá sinal de vida, o ronco do motor denunciando uma cachaça mal tomada.

Daqui a pouco vem o Fantástico que de fantástico nada tem. Anuncia-se reportagem denúncia sobre aquilo que todo mundo já sabe. Não se faz mais jornalismo como antigamente. Sim, ia esquecendo, a insôssa Eliane continua brindando os convidados com suas comidas cheias de tapurus, baratas e lombrigas. Ela própria come fazendo careta, só pra dar o exemplo.

Falar em TV, viram Sílvio Santos? De tanto espichar os couros está com o pescoço torto pra frente. E os beiços recheados de botox o fazem a cópia fiel de finado Quidute.Esse povo não entende que a velhice é um acontecimento natural na vida de todo mundo e todo mundo tem mais é que aceitá-la. Eu mesmo não faço questão de ficar velho. Velho bonito e gostoso, diga-se de passagem.

Amanhã recomeça tudo: trabalho, contas pra pagar, cobranças, político mentindo e se fazendo de santo, oficial de justiça batendo na porta, gente cretina praticando cretinice, mulher botando chifre no marido, marido traindo a mulher com a secretária, ladrão de galinha indo pro xilindró, ladrão de gravata apagando a gravação do condomínio e assim vai a vida até chegar o novo fim de semana trazendo a ilusão de que tudo vai ser diferente.

E vamos a luta.