Zeca de Raimundo não cabia em si de felicidade. Ia, finalmente, se amostrar aos conterrâneos, chegando no sertão de avião “pelos ares” como anunciou a um espantado Geraldo Padeiro, conterrâneo dos tempos bicudos, dos ontens de pobreza e necessidades.
– Vai ter avião voando prol sertão -, anunciou Zeca, enquanto procurava o seu cofrinho de barro onde guardava as economias das noites insones como vigia do Mercado de Oitizeiro.
Não esquecia, jamais esqueceu do jeito como deixou a terrinha, um matulão nas costas, uma calça rasgada no fundo, umas moedas fajutas no bolso e um mundo de incertezas a aguardá-lo no desconhecido.
Agora ia voltar e voltar por cima, pelos ares, pelo céu, voando igual ao passarinho cantador que pousava na cumeeira da casinha humilde do Cancão onde repousava seus ossos cansados e doídos da labuta na roça.
Mas, e sempre tem um mas nessas histórias, apareceu um obstáculo na sua alegria.
Ao procurar o guichê da companhia para comprar a passagem, foi informado que o voo sairia de Recife direto para o sertão da Paraíba, sem parada em João Pessoa ou Campina Grande e sem baldeação em Soledade, onde esperava degustar um cuscuz com queijo de coalho e carne de bode.
– Mas essa menina, pra que serve então esse campo de aviação aqui em Santa Rita? – perguntou aborrecido.
A moça fez que não ouviu.
Aliás, todo mundo estava se fazendo de mouco, escondendo a cara com vergonha.
Depois de brilhar como Aeroporto Internacional, com direito a voos diretos para Buenos Aires e vice-versa, o Castro Pinto estava relegado ao papel de rodoviária de quinta categoria.
Zeca, claro, desistiu. Tinha o dinheiro da passagem aérea, mas não dispunha do numerário para fazer a viagem de ônibus até Pernambuco.
– Fica pra outra vez, viu! – avisou à moça do guichê. E olhando de banda, em tom de deboche, desabafou: -Também, com esses aviões usados, de cataventos nas asas, nem pensar. É muita omilhação!”
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