opinião

E o combate seletivo à corrupção continua…

31 de dezembro de 2019

Repetindo o que já havia ocorrido em solo brasileiro nos idos de 1954 e de 1964, a retórica moralizante da luta contra a corrupção voltou-se exclusivamente contra partidos políticos de orientação trabalhista

Brasília - Governador da Paraíba, Ricardo Vieira Coutinho, fala á imprensa após reunião com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Brasília – Governador da Paraíba, Ricardo Vieira Coutinho, fala á imprensa após reunião com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto (Antonio Cruz/Agência Brasil) (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)

O ex-prefeito de João Pessoa e ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, foi o entrevistado do Trilhas da Democracia do domingo, 29 de dezembro. Gravada em 3 de dezembro, nos estúdios da TVPE, a entrevista foi realizada, por conseguinte, antes da execução da ordem judicial de prisão do convidado, nos marcos da Operação Calvário da Polícia Federal, no dia 19 de dezembro.

A referida entrevista teve por objetivo discutir as possíveis motivações que levaram a região Nordeste a se posicionar contrariamente àquele que viria a ser eleito presidente da República nas eleições de 2018, um posicionamento que, ao que parece, permanece o mesmo por parte da maioria da sua população e dos seus governadores, tendo levado estes últimos à construção do Consórcio Nordeste.

A prisão de Ricardo Coutinho – revertida pelo Superior Tribunal de Justiça até o mês de fevereiro –, no entanto, leva-me no presente artigo a reafirmar que a luta contra corrupção no Brasil sempre foi caracterizada pelo seu caráter seletivo. A fim de se comprovar isso, basta cotejar os alvos políticos da brasileira Operação Lava-Jato aos implicados pela Operação Mãos Limpas, na Itália, nos anos noventa.

Enquanto na península, todas as forças políticas que deram forma aos sucessivos governos da República italiana nascida com a derrocada do fascismo na Segunda Guerra Mundial foram incriminadas, com destaque para a Democracia Cristã e o Partido Socialista Italiano, no Brasil, PSDB e PFL/DEM passaram ao largo da onda persecutória judicializante que alcançou seu ápice com a prisão do ex-presidente Lula.

Repetindo o que já havia ocorrido em solo brasileiro nos idos de 1954 e de 1964 (levando, respectivamente, ao suicídio de Getúlio Vargas e à deposição de João Goulart), a retórica moralizante da luta contra a corrupção voltou-se exclusivamente contra partidos políticos de orientação trabalhista (o PTB de Vargas e Jango; o PT de Lula; e, agora, o “PSB lulista” de Ricardo Coutinho), partidos estes que tiveram no combate à desigualdade uma das suas principais bandeiras.

Que fique claro: não considero a luta contra a corrupção menos importante que o combate à desigualdade (seria melhor falar de desigualdades, no plural: social, regional, étnico-racial, de gênero etc)! O grande problema é que, entre nós, a primeira deu-se quase que exclusivamente com o fito de pavimentar o terreno para ofensivas golpistas contra governos de caráter trabalhista e, ato contínuo, desviar as atenções das reais intenções iniquizantes daquelas forças políticas que passaram a ocupar as estruturas governamentais pós-golpes.

Assim, o “combate seletivo à corrupção” é um ingrediente indispensável para a afirmação de governos e governantes contrarreformistas, que retiram do Estado as responsabilidades de implementação de políticas públicas direcionadas a combater as desigualdades. Um ingrediente tão importante quanto a adoção de políticas econômicas monetaristas e a elevação dos níveis de repressão estatal contra os mais pobres e aqueles que se organizam para resistir à barbárie advinda em tal contexto

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5 Comentários

  • Reply Mercia de Fatima 31 de dezembro de 2019 at 08:15

    Ninguém defende mais RC do que eu, defendo muito e com sinceridade, independentemente de partido e de qualquer interesse. Mas assistindo essa entrevista discordo totalmente da defesa que ele fez do programa mais medicos com a inclusão dos cubanos. Senti na própria pele quanto aquele programa se fundava numa grande mentira, numa grande farsa. Nas propagandas na midia se alardeava: os estrangeiros irao pra onde os medicos brasileiros não quizerem ir. Ora tive aqui inclusive incluindo um familiar, medicos paraibanos que se inscreveram no segundo , terceiro dia e não queriam optar por jampa, por campina grande ou cidades de maior porte daqui. Entretanto na hora de optar lhe foram oferecidas apenas vagas em população ribeirinha no amazonas, população indigena também no Amazonas e no Maranhão (se faltaram estrangeiros pra essa populacao acho que nesses estados tem curso de medicina e médicos- porque paraibanos formados aqui?). Onde esta a verdade desse programa? E mais em algumas pequenas cidades que esses medicos paraibanos gostariam de ir cubanos é que foram contemplados , estranho no minimo . Será que faltou medico querendo ir pra jampa? lá também tinha cubano. Outra questão é a remessa de dinheiro pra Cuba tirada exatamente daqueles que aqui trabalhavam, ajuda exatamente pra um pais de uma ditadura sangrenta e cruel. Além disso arranjaram uma maneira de desqualificar o profissional médico brasileiro, ora como em toda profissão tem excelentes, bons, medios e ruins. Isso foi uma vergonha, usar desse expediente pra enaltecer um profissional estrangeiro querendo destruir o nosso profissional ( um crime lesa patria), nunca vi uma politica mais sacana que essa. Agora eu pergunto aos defensores dos médicos cubanos,quando doentes procuraram os médicos cubanos? nada contra essas pobres vitimas da ditadura sangrenta de Fidel. Sem falar na barreira linguistica, que podera com certeza ser ultrapassada, mas dai se emocionar com eles só quem admira Cuba e nesse ponto sou totalmente contraria a tudo que RC expôs sobre o assunto mais médicos. Que essa chaga não volte, os cubanos podem até voltar mas como dizia no edital :estrangeiras irão pra onde os brasileiros não querem ir e também sem mandar um único centavo pra Cuba. Falo o que penso, RC continuará sendo pra mim o maior governador da Paraiba de todos os tempos, mas ninguém é perfeito não é…

  • Reply Mercia de Fatima 31 de dezembro de 2019 at 08:56

    Quanto a seleção nos casos de corrupção no Brasil é tão evidente que nem precisa ser expert no assunto. Muito triste isso em todo territorio nacional, ver as genis da vida…mas espero a justiça do alto, com certeza não falha. É claro que não temos santos, mas muitos santos do pau oco cheios de erros estão aí livres, leves , soltos e falantes kkkkkk

  • Reply falcao 31 de dezembro de 2019 at 14:32

    Co diz a frase : Poder é sempre perigoso. Atrai os piores e corrompe os melhores. O poder é dado aqueles que estão prontos a se rebaixar para pegá-lo. ………………Que Ricardo Coutinho foi um excelente Governador, não deixa duvidas, comparado aos seu antecessores. Agora inocenta-lo só a justiça. Claro que pode acontecer com o ex-prefeito Cicero Lucena, a justiça sempre tardando. Agora não dá para engolir o discurso vitimista, e apagar o empenho do MPF, MPE, CGU e PF ai seria inocência minha. Mais uma frase : Onde há fumaça, há fogo … espero que não. Toda trajetória politica de RC, estaria lançada ao esquecimento …

  • Reply Emmanoel do Nascimento Costa 1 de janeiro de 2020 at 12:29

    Tinha um líder do Governo João é deputado estadual um tal de Ricardo Barbosa só vivia nesses blogs pago pelo Governo metendo o pau em Ricardo Coutinho.Estou sentido a falta dele porque será que ele anda tão calado?

  • Reply Mercia de Fatima 1 de janeiro de 2020 at 13:46

    Temos muitas questões graves Brasil afora envolvendo politicos e familiares e que não sei porque nem se fala mais. Acho que a população precisa saber o que houve e porque o silêncio foi o que ficou…

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