Bebé do Soro se dizia devoto de Nossa Senhora do Bom Conselho. Devoto dos bons, de ir às missas, dar dinheiro ao padre e assistir as celebrações de joelhos dobrados. O couro dos joelhos dele era enrugado de tanto ajoelhamento. Um homem santo na ótica de Toinho Mandaú, o sacristão.
Na sua casa, em meio aos baldes de leite que a esposa vendia em sociedade com a sogra a três tostões o litro, se misturavam rosários, escapulários, santinhos, cruzes de vários tamanhos e até uma batina surrada de finado Frei Manoel que recebeu como doação das mãos de Frei Terésio.
Nas novenas, puxava os benditos, nas procissões era o primeiro a segurar o andor.
Caminhava com a santa nas costas e o olhar no infinito. Era a cara de Santo Antônio em dias de casamentos.
Na rua onde fixara a casa de morar e a bodega de vender e a sinuca de jogar, era procurado para dar conselhos, ensinar o bom caminho, reservar chão de casa no céu, distribuir hóstias.
Até que um dia, e sempre haverá um dia, aconteceu.
Miguezim das Têias chamou o amigo Tulino Passarinho para um tira-teima na sinuca de Bebé.
Eram considerados os melhores sinuqueiros da Nova Brasília e adjacências.
E se dirigiram para o desafio. Pegaram a esquina de Zé Novo, passaram pela casa de Luiz Crente, comeram uma cocada em Chico Pezim e nem bem entraram na sinuca viram a moça descabelada correndo na frente e Bebé de rola dura atrás, enquanto ela, aflita, gritava:
– É pecado, Bebé! É pecado, Bebé!
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