Eu gostava de Edezel.
Do seu jeito chato de abordar os outros, meio que brusco, mas que na verdade era apenas um jeito de ser.
No íntimo era uma pessoa boa e solidária.
Gostava de chegar em Princesa e encontrá-lo, já aposentado, puxando conversa em bocas de noite no banco da farmácia agora administrada pelo filho José.
Era um referencial para mim. Um jeito de avisar que Princesa,embora mudada e com novos figurantes pisando o seu chão, continuava a mesma de tempo atrás.
Era ele, seu Antonio Maia do outro lado da rua com sua farmácia que depois virou loja de variados, João França e suas miudezas na outra esquina,o bar e hotel de Dona Corina, a barraquinha de Elizeu montada ao lado da pensão de João do Guirra, o passado se fazendo presente nas figuras emblemáticas desses grandes e inesquecíveis princesenses.
Edezel era o penúltimo deles.
Antes partiram Elizeu, dona Corina, Seu Zé marido dela, Antonio Maia, João do Guirra…
Ainda resiste o imortal João França, agora meio aposentado, extraviado pras bandas do silo de Zé Pereira, mas resistindo heroicamente a inclemência do tempo e as inovações do futuro.
Edezel viveu muito. Passou dos 90 e isso no sertão é raridade. Da última vez que conversamos ele disse que estava na conta do saldo médio. Tinha todas as veias entupidas e poderia capotar a qualquer momento. Não capotou tão fácil. Mangou do coração, das armadilhas do destino e só morreu quando bem quís, quando já sentia o fastio dessa convivência terrena.
Ficaram os filhos. Ficou dona Neuzinha, a doce e dedicada Neuzinha amiga de minha Tia Jovem.
Se esta coluna miserável não me doesse tanto, juro que pegaria o carro e iria bater em Princesa nesta quinta.
Mas Edezel sabe que dor de coluna dói demais, e vai me perdoar por essa ausência.
1 Comentário
Caro Tião!
Tens uma forma única de saudar os mortos a quem devotas amor: pura, poética, sentimentalista, depuradora, enfim, como os mortos merecem. Não é de hoje que revelas esse invejável dom.
Por isso, a tua ausência, motivada pela dor na coluna, nem será sentida, porque te fazes presente com essa belíssima “sinfonia” do silêncio.
Paz e luz!