RAMALHO LEITE
Quando Tarcísio Burity foi ungido governador da Paraíba recebeu a incumbência de começar um processo de abertura política. Uma das recomendações era mesclar o secretariado com detentores de mandatos visando aproximar o governo dos políticos. Aproximar os políticos do governo, já era um vício natural e incorrigível… Naquela época, a Paraíba era, quase toda, entregue a ex-seminaristas, ocupantes dos mais diversas postos de comando. Agora, a categoria atingia o ápice, com a chegada do quase -padre Burity à cadeira de governador. Para atender aos ditames de Brasília, o deputado Edme Tavares, contemporâneo de Burity no seminário, foi nomeado Secretario de Ação Social e, em consequência, na qualidade de primeiro suplente, assumi a sua vaga na Assembleia.
O parlamentar de Cajazeiras vinha da ala agripinista e se elegera em 1970. Já o encontrei lépido e atuante em 1974 quando chequei àquela Casa, eleito pela ARENA, o maior partido do ocidente, segundo seu presidente, Francelino Pereira, um mineiro nascido no Piauí. Foi justamente a escolha de Burity que prejudicou a minha reeleição em 1978. Filiei-me à corrente que defendia a ascensão de Antonio Mariz ao governo, mesmo pela via indireta, e fomos às últimas consequências, ou seja, à disputa na convenção, contrariando a ordem emanada dos quartéis, ainda fortíssima até então. A rebeldia me custou o mandato. Me colocar de volta à Assembleia sem ter sido eleito era uma prova de dupla boa vontade: do regime, que acenava aos políticos e os introduzia no governo ( a nomeação de Edme) e de Burity, que desejava pacificar a Paraíba, trazendo para seu guarda -chuva os que lutaram contra sua escolha. Voltei.
Era a segunda vez que Edme Tavares entrava na minha história. Acompanhando João Agripino em campanha, nos idos de 1965, quando me afastei para fazer prova na Faculdade de Direito, Edme me substituiu na missão. Eleito governador, Agripino nomeia Edme Sub-chefe da Casa Civil e me manda nomear Oficial de Gabinete. Recusei a oferta, pois já vinha nessa função desde o tempo de Pedro Gondim. Queria uma promoção. Fiquei sem nada. João achou que eu queria muito para o meu tamanho. Edme ficou no governo e dali saiu com um mandato de deputado estadual. Seu exemplo seria seguido por mim, quatro anos depois, quando entrei na Assembleia no bloco de Ernani Satyro, vindo da prefeitura de Dorgival Terceiro Neto. Comigo chegaram Manoel Gaudêncio, Evaldo Gonçalves, Chico Soares, Múcio Satyro, Nilo Feitosa e Sócrates Pedro. Edme já dava ordens na Casa.
Dava ordens na Assembleia e no Governo. Seus municípios eram bem aquinhoados com obras e serviços. Ele não perdia tempo, e com essas obras construiu sua conquista maior: o mandato de Deputado Federal e, depois, de Constituinte. Quando o cenário político mudou e a forma de angariar votos passou a ser mais dinheiro que trabalho, foi excluído do processo e ficou sem mandato. Permaneceu em Brasília onde exerceu alguns cargos a nível federal e, depois, passou a se dedicar à advocacia, reencontrando suas origens.
Há alguns anos Edme Tavares nos deixou. Com ele, um exemplo de homem público inteiro e sem máculas. Não estive presente às últimas homenagens que lhe prestaram na terra dos tabajaras. Mas senti muito e sofro cada vez que um pedaço da nossa geração se vai. Um pouco de mim também se foi.
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Palavras de Edme ao se despedir da Câmara Federal:
Meus Conterrâneos, sejam todos vocês muito felizes. Já vou indo, na esperança da precisão do meu novo salto. Sou hoje um homem-pássaro que acredita no seu vôo. É o trapézio da vida. Já vou indo, meus conterrâneos, para ficar mais perto de um novo horizonte que a mão de Deus me conduzir.