Marcos Pires
Eduardo foi Procurador Geral de Justiça em Brasília, o que lá equivale a ser quase Ministro de Tribunal Superior, mas quando ele ainda era Promotor de Justiça, o filho de um amigo foi preso fumando maconha. Eduardo estava tomando seu uísque e saiu do bar direto para a Delegacia. Tentou convencer o Delegado que se tratava de um jovem estudante, universitário recente, e que não havia razão para mantê-lo preso. O Delegado negou-se a relaxar a prisão. Então Eduardo pediu para ficar preso em companhia do rapaz até que as coisas se resolvessem. Pois bom, estavam os dois conversando na cela quando o pai do garoto chegou à Delegacia com o HC liberatório. Ao ver aquela cena, balbuciou:
“- Mas Eduardo, e eu que sou teu amigo, quase irmão, não sabia que você também fumava maconha?”.
Explicações dadas, a amizade solidificou-se mais ainda diante daquele inusitado e corajoso gesto. O amigo chegou a ser Presidente do STF, mas Eduardo jamais lhe pediu nem um copo de água. Nem de uísque, entenderam, engraçadinhos de plantão?
Também é necessário registrar que Eduardo me acompanhou para conseguir o decisivo voto de um Ministro do STJ, chato pra caramba, numa causa que beneficiou quase dez mil paraibanos e milhares de outros servidores Brasil afora, porque ali formou-se pela primeira vez o destino de um índice de aumento dado aos servidores militares e negado aos civis no governo Itamar.
Mas não posso deixar de contar que Eduardo tinha uma demanda judicial aqui e eu era o Advogado. Audiência em Santa Rita. No caminho do Fórum me ligou o enorme amigo Anacleto Reinaldo, querendo aumentar o valor do “empurrão” semanal que eu lhe dava (à época 50 reais). Expliquei que não poderia falar naquele momento porque estava indo a uma audiência com Eduardo. A curiosidade do “Chumbo Grosso” me obrigou a declinar a situação do amigo em Brasília. Pra que? Coincidentemente estávamos ouvindo o programa quando Anacleto passou a elogiar Eduardo. O mínimo que disse foi que Cachimbão era amigo íntimo do Presidente da República e mandava no Brasil. Terminada a audiência já havíamos esquecido o fato quando recebi nova ligação de Anacleto: “- Ô meu advogado, agora me diga de verdade, quem gota serena é esse FDP que eu elogiei tanto?”
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