RAMALHO LEITE
O adiamento das eleições municipais de 1980, faria da eleição de 1982 o maior de todos os pleitos até então realizados no País. Cerca de 55 milhões de eleitores deveriam comparecer às urnas, para, livremente, escolherem em um universo de mais de 400 mil candidatos, os vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores. O Colégio Eleitoral que deveria eleger o futuro Presidente da República em janeiro de 1985 também seria decidido naquelas eleições.
Estava em andamento a abertura lenta e gradual iniciada pelo Presidente Geisel e continuada pelo Presidente Figueiredo. Os anistiados estavam de volta e a oposição começava a se organizar. Outros partidos surgiam na praça e davam adeus à dicotomia da Arena e MDB, surgidos após o Ato Institucional nº 2 que encerrara a vitoriosa trajetória dos antigos partidos advindos de 1945.
Antes de pavimentar o caminho das urnas, o regime militar instalou alguns obstáculos para dificultar a vida dos opositores. A Lei Falcão tirou suas imagens da TV e sua fala do rádio; as coligações partidárias foram proibidas e surgiu o voto vinculado, agregando o vereador ao governador e demais cargos em disputa, sob pena de nulidade do voto. Um verdadeiro jiqui eleitoral.
Egresso da antiga UDN e passando pela ARENA mas já de há muito no caminho da oposição, terminei no PMDB através do Partido Popular fundado por Tancredo Neves, que foram fundidos em uma única agremiação. Os anistiados estavam voltando e procuravam retornar às posições de onde foram tirados pelo arbítrio. O senador Humberto Lucena escapara da degola e entre nós era a cara da oposição, tendo herdado do senador Rui Carneiro o espólio do antigo PSD, hoje incorporado ao PMDB engordado com os dissidentes da extinta ARENA. Nesse ambiente fui encontrar José Targino Maranhão a quem conhecera como deputado estadual, quando eu era um servidor anônimo da Assembleia Legislativa.
Foi Humberto quem nos coligou. A aproximação geográfica entre Araruna e Bananeiras seria um motivo natural para maiores afinidades entre nós. Sua origem udenista encarnada no velho Beija, outro liame, mesmo ele tendo optado por Argemiro de Figueiredo e seu PTB e, meu pai, por João Agripino na cisão do partido udenista. Fizemos uma dobradinha vitoriosa nos pleitos de 82 e 86 sendo eu eleito deputado estadual e Maranhão federal. Deixei de votar nele, para votar em mim mesmo. Ele não gastava nos meus municípios e eu não gastava nos dele. ‘Não gastar” era o único vício de Maranhão. Certa feita o procurei para que mandasse aviar algumas receitas de eleitores nossos. Ele apenas perguntou: – Esse pessoal vai votar conosco? Diante da minha confirmação, asseverou: – Então são eleitores de visão, não precisam de óculos… Para chegar onde chegou, com brilho e honradez, Maranhão tinha que contar com eleitores de visão!
Sem Comentários