Em busca do natal perdido

Marcos Pires

Quando vocês estiverem lendo estas mal traçadas e comemorando a festa de natal, muito provavelmente estarei fora do Brasil. Ao longo dos últimos anos tenho procurado em outros lugares a essência da tal data magna da cristandade. Houve um tempo em que, pai recente, o entusiasmo me movia a promover natais incríveis, incluindo-se aí antecipações da festa para dezenas de amigos e um natal raiz no dia 24 para a família. Vieram os netos e eu sempre me fantasiei de Papai Noel para entregar os presentes, até que Rafinha reconheceu naquela fantasia perfeita e por trás de uma barba branca enorme…meus tênis de corrida. Mais uma etapa que se foi.

De outra banda começou a pesar a mesmice da compra de presentes, o passar na casa de uns e outros na noite mágica para enfim ter a alegria de chegar em casa, morto de cansado e aproveitar a felicidade dos que moram escoteiros.

Um dia decidi seguir em frente e comecei a procurar a emoção perdida dos natais em outros lugares. Fátima, em Portugal, foi nossa primeira parada. Chegando lá, descobrimos que no dia 24 as lojas e os restaurantes fecham, mas a belíssima missa na catedral e um convite para compartilhar a consoada na casa de amigos de infância recém adquiridos salvaram aquele natal.

Por alguns anos fomos a outros lugares até toparmos com o natal em Barcelona. Ali sim; festa do meu agrado. Basta dizer que eles escondem nos presépios um pequeno boneco, um camponês ajoelhado, com as calças abaixadas e defecando. Juro. É o Caganer, que simboliza a prosperidade porque aduba a plantação.  E tem o caga tió, para mim a maior alegria de qualquer festa de natal. Trata-se de um tronco de madeira estilizado, recoberto com um pano. Na noite de natal as crianças sentam o pau no caga tió, cantando uma musiquinha que manda ele cagar seus presentes senão apanha mais ainda. É arretado. Depois, aproveitando-se da ausência momentânea dos filhos, os pais escondem embaixo da coberta os presentes e enfim aquela riqueza é revelada. Teria muito mais a contar, porém cadê espaço?

Este ano passaremos o natal num país um tanto quanto, como direi…tradicional. Dizem que a festa é pura pompa e circunstância.

Como me conheço, acho que sentirei falta do Caganer e do caga tió.

De qualquer maneira espero que vocês tenham um natal alegre. Viver é rir, pelo menos no meu dicionário.