Maria José Rocha Lima[1]
Os jovens participantes do Projeto Curta Maria assistiram atentamente e compenetrados ao discurso da embaixadora da Paz Maria Paula Fidalgo, atriz de televisão, teatro e de cinema, na solenidade de Premiação dos três melhores vídeos produzidos na XII Jornada para a produção de vídeos sobre a Lei Maria da Penha.
A mensagem da oradora, além de promover tranquilidade e paz no auditório, teve um conteúdo pedagógico extremamente importante para os alunos do Centro Educacional 02 de Sobradinho. Todos pareciam encantados por cada palavra, cada gesto da atriz, que transmitia ensinamentos para que aqueles alunos não se deixassem paralisar pelo medo reinante da sociedade.
A embaixadora da Paz, que acorda muito cedo e aproveita cada minuto da vida para expandir a consciência, conclamou os jovens a fazerem o mesmo. A situação de violência, de denúncia de punição na atualidade é muito importante, mas não podemos perder de vista os bons projetos, as pessoas boas, as pessoas honestas.
A paz e a violência sempre estiveram em pauta no mundo inteiro, quase sem data, não importando a classe social ou região do planeta. Por isso, não devemos lutar contra a guerra e sim buscar a paz.
Ela apela para que não nos paralisemos diante da realidade violenta, diante do medo que esse tipo de interação nos causa. Não deixemos que a dureza da vida torne o nosso coração endurecido. Ensina que devemos transformar os momentos de dor e sofrimento em uma grande plataforma que nos alavanque para subirmos, para ficarmos mais fortes e resilientes.
Maria Paula disse que, “ mesmo que caiamos de boca no chão, levantemos com mais garra ainda”. E prossegue, afirmando que na Cultura de Paz, inspirada no provérbio budista, que todo mundo sente dor, desde os príncipes aos servos mais desamparados, mas o sofrimento é opcional. Disse ainda que ninguém tem controle total sobre a vida, que em algum momento haverá uma situação de dor.
Ela tem razão: em algum momento, alguém vai nos machucar; uma doença pode nos acometer; um atropelo pode ocorrer; uma avalanche pode nos acercar, mas ela recomenda que não alimentemos sentimento de vingança e tomemos todas essas situações como desafios para superação.
Como ela, penso que esses momentos são importantes para que mobilizemos os nossos recursos mais íntimos, nossas forças até então desconhecidas para a superação.
Maria Paula recomendou que nesses momentos de dor e sofrimento precisamos nos valer dos recursos de que dispomos: quem gosta de correr, corra; quem gosta de escrever, escreva; quem gosta de fazer vídeo, que o faça. A mudança depende de nós, é preciso diante de uma situação de violência não responder com violência. O negócio é respirar fundo, contar até dez, cem, mil, não aceitando provocações.
Devemos começar agora. Olhar para quem está ao seu lado com carinho e benevolência. Nada de reagir, muitas vezes silenciar. Apenas sorrir, que é uma grande expressão de paz. Pense bem antes falar de mal de alguém, de falar de alguém com desprezo em público ou fofocar por causa de seu comportamento. Em público só fale se for bem ou se omita se não tem coisa boa para falar. Fale no particular com essas pessoas de mau comportamento. Evite revidar uma ofensa, por mais grave que seja.
Maria Paula me lembrou um trabalho que realizamos pela Casa da Educação Anísio Teixeira sobre as lições do Aleijadinho, transformadas em poema infantil por Miguel Lucena, a ser lançado, no início do ano, no qual abordamos o seu exemplo de vida e obra, mostrando que foi nos momentos de maior dor e sofrimento que o Aleijadinho produziu a sua a obra de maior envergadura: Os Passos da Paixão de Cristo, canalizando magistralmente os seus sofrimentos, como um recurso de sobrevivência altamente valioso e produtivo.
Com mais ou menos 40 anos de idade, lá por 1777, o artista foi vítima de uma enfermidade que o fez perder os movimentos das mãos e dos pés. Além disso, a doença entortou-lhe o rosto. A sua aparência assustava as pessoas. Por isso, saía de casa somente quando necessário, coberto por uma capa e usando um chapéu de abas bem largas. Mas ele não desistiu, continuou trabalhando com os instrumentos, os cinzéis, amarrados nos punhos. O Aleijadinho superou as deficiências e conseguiu representar nas obras os seus sentimentos. O Aleijadinho protestou, ao registrar o seu descontentamento com os desafetos, inclusive a própria esposa, que lhe traiu com um assessor do governador das Minas, simbolizando as suas raivas, através da arte.
Contam que, ao ser chamado de feio e assustador pelo assessor do Governador da Província, ele esculpiu o seu agressor com cara monstruosa, num sinal de protesto e desaprovação. Dessa forma, o Aleijadinho nos ensina que pela criação artística podemos concretizar as formas não violentas de reagir às humilhações que tentam nos impor, aliás, como deve ser em qualquer sociedade civilizada. Ele não se acovardou frente às tentativas de humilhação e reagiu. Não agrediu fisicamente nem proferiu ameaças ou xingamentos, valendo-se da sua arte para simbolizar a sua dor. Esta é outra valiosa lição do Aleijadinho que serve à educação para a convivência social com os nossos alunos. É preciso ensinar-lhes a simbolizar os sofrimentos que os afetam. Especialmente agora, quando se verifica o crescimento da violência no interior da escola.
A aula de Maria Paula foi fantástica. Ela achou espetaculares os três vídeos vencedores “Olhos que não vêem”, que ficou em terceiro lugar; “Hoje ele me trouxe flores”, em segundo, e “Querida Eu”, em primeiro. Ela achou os vencedores espetaculares, mas ficou fortemente impactada com a qualidade do vídeo que ficou em primeiro lugar. Encorajou os alunos a prosseguirem e profetizou que ainda verá a aluna que foi diretora e roteirista nos tapetes vermelhos do cinema nacional.
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