Meu amigo Kubi Pinheiro, piranhense lá dos sertões, contou sua emocionante história de vida. E como ela se parece com a de todos nós que abandonamos o sertão para tentar viver melhor!
Ele ficou na casa de um parente, trocando a hospedagem por aulas aos filhos dos primos e arrumação da casa.
Eu não tive essa sorte.
Fiquei emprestado em casa de estranhos, vigiado as 24 horas do dia por irmãs conseguidas ao longo do percurso e comendo ovo com arroz gelado ao final do expediente.
Kubi expunha seu exemplo ao filho que reclamava do dinheiro magro na carteira.
Mal sabia o menino de hoje quão magros eram os tostões de nossos bolsos naqueles tempos de outrora.
Falo por mim.
Eu e Chico Pinto fazíamos a cota para pagar dois pratos de sopa no 2113 de Evilásio de Andrade.
Lá no quartinho sem conforto da Torre, do banho de cuia e das necessidades acocoradas no buraco comum, eu e Bibiu mal comprávamos a Bentivi cheia de sebo, que era passada no pão de dois dias para ajudar na descida.
Aprendemos, nos tempos da gente, a lutar e a viver sozinhos.
Não tínhamos o conforto dos novos tempos.
Nossos pais, infelizmente, não conseguiam alcançar o tamanho da nossa cobiça.
Mas isso valeu.
O sofrimento nos tornou corajosos.
Só que nossa coragem ficou restrita ao receptáculo do nosso ego.
Não a transmitimos, como devíamos, aos herdeiros.
Por isso eles estranham o agrado raquítico fora de casa.
Cresceram tendo de tudo.
E quando começaram a carreira solo, tiveram tudo de menos.
Que aprendam com Kubi Pinheiro.
Este sim, sabe ensinar a regra do bom viver.
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