Ao redor daquela mesa onde maldades foram planejadas, traições tramadas e ingratidões cometidas, reinava o mais absoluto transtorno. As antigas risadas zombeteiras e espalhafatosas foram substituídas pelos ares consternados comuns aos insatisfeitos. Ninguém se atrevia a falar primeiro, cada um querendo entender os motivos daquilo tudo.
– Eu pensei que depois de carregar o fardo de vocês por tanto tempo, teria chegado o meu momento de brilhar -, começou a dizer Ronildo Bonácio coçando a careca brilhante de suor.
– Qual o que, perto de mim nada fizestes – interrompeu Cubinho de Babosa, cuja mágoa se revelava em dobro por ter ele e a Considerada sobrado nos anúncios advindos do Reino da Filipéia.
E enumerava: – Eu preparei bandeirinhas de papel celofane, preparei a tinta, pichei o nome do rei nas paredes, me fiz locutor de comícios, juntei gente para as passeatas e até faixas paguei do bolso, desinterando o dinheiro do jogo do bicho, para no final ficar chupando o dedo.
– Deixa de onda, que o dinheiro nem teu era -, atalhou Pé de Prancha, com um lamento final:
– Agora tem uma coisa, o peitinho está quase acabando.
Foi aí que Galo Pelado, até então mero observador dos lamentos, reagiu furioso:
– Vira essa boca pra lá que eu comprei meu Porsche em 60 prestações!
1 Comentário
Sempre é assim, muita galinha pra pouco galinheiro. Principalmente quando não existe pessoas honestas e leais.