Liguei o rádio, na estrada, quando o escore já ia em 4 a 1. Voltei a ligar depois da meia noite, já em casa, quando os ministros já tinham lavado as mãos.
Eu assistia à missa pela glória de Nelma, a tarde da quinta mal se ia, quando um portador da web avisava ao vizinho da ordem de prisão, o réu ainda entalado com a sentença.
“Não esperaram ao menos as 24 horas”, sussurrou-me o vizinho de banco, na igreja, num comentário que podia ter vindo à luz no singular, já que a sentença é de um só juiz.
Mas que chegou por via da concordância ideológica, ditada não pelos termos expressos, mas com o que se associa ao que subsiste em nossa mente, o sistema. “Não esperaram”.
Não se trata de um juiz, nem ao menos de uma corte, mas de uma ordem sistêmica de classe social.
Lula tinha de ser alijado do processo eleitoral. Não por ser de origem pobre, como Lincoln, uma vez que este quando ascendeu já era da elite, mas por ter Lula capturado um lugar historicamente destinado à manutenção do status quo.
Ora, sem pegar em armas, sem o fratricídio próprio das revoluções, a corrupção de Lula, em dez anos, conseguiu intrometer 30 milhões de baixa renda ou de miseráveis no meio da pirâmide social. Gente do nada com renda familiar entre 1,5 mil e 5 mil reais. Sem falar nos flagelados que largaram o flagelo.
E o pior: Vanessa, que aparece numa reportagem da grande imprensa de 2011, está entre outros milhões de jovens das periferias que “começam a desempenhar o papel principal de formadores de opiniões da nova classe média”.
Nova gente que abarrotou as faculdades e institutos e passou a produzir lideranças como a de Marielle Franco, rapidamente fuziladas.
Havia uma preocupação do PT e do próprio PSDB anti-Lula, em entender melhor o que quer essa multidão emergente que acordava cedo, no tempo do desemprego zero, para trabalhar e lotar as faculdades à noite, “comendo macarronada aos domingos ao som de Ivete Sangalo”.
Outra jovem da classe C, Aline Cesário, disse a uma das nossas grandes revistas: “Da periferia, a gente olha para os políticos e vê o que eles não fazem. Nossos pais viam as mesmas coisas e se deixavam levar por pouca coisa”.
Lula julgou que ampliando o mercado com os programas sociais, fazendo as montadoras venderem mais, arranjando mais compradores, do automóvel ao fubá, amainaria a velha luta de classes.
Não chegaria àquilo, é claro, mas haveria de influir na iniciação de uma nova consciência no andar de baixo.
Em vão, o cientista social Chico de Oliveira, emérito da USP, aconselhou a faxineira de casa a não comprar o automóvel. Explicou sabiamente: “Não houve distribuição de renda, mas um aumento de mercado. Você vai amargar no juro e no endividamento. Depois de ouvir todo o meu discurso, ela me perguntou: ‘Por que o senhor pode ter um carro e eu, não?’. Bom, aí eu me calei”.
Preso Lula, se chegar uma pamonha em sua cela com um celular nela embutido, não faltarão, aqui fora, caladinhos, os que gostam de o ouvir. As pesquisas mostram isto, mesmo pagas pelo anti-lulismo.
Normalmente, seja qual for o crime, os líderes mundiais que têm saído da prisão saem muito maiores: o nosso Prestes, Mandela, líderes a vida toda e mais algum tempo.
- • Publicado originalmente em A União de 7 de abril de 2018
5 Comentários
Realmente era pra ter sido uma figura de renome internacional. Porém, deixou-se envolver pelo tilintar dos bilhões. O que era pra ter sido uma exceção, tornou-se regra. Apenas mais um político ladrão entre todos e tantos. Quero que sejam enjaulados todos esses crápulas. Enquanto isso, que o indicado ao ” Nobel da Paz” de araque passe um bom tempo mofando. Esse Lullarapio é/foi um verdadeiro otario.!!!!!
O chefe da quadrilha, segundo Dallagnol, abdicou de uma aposentadoria de ex-presidente, a qual tinha direito. Pois é, no Brasil, aquele que acumula aposentadoria de ex-governador e joga dinheiro pela janela, é o mocinho. Porém, aquele que rejeita aposentadoria de ex-presidente(Lula) é tido como bandido. A honestidade de Lula multiplica a ira daqueles que o fazem oposição!!
A cada vez que eu ouço, ou leio, certas ilações sobre o PRESIDENTE LULA e sua “corrupção”, eu me pergunto:
1. Ele comprou apartamento em Higienópolis apoś deixar a presidência? Sim, por que uma cobertura fajuta como aquela do Guarujá é coisa
de “corrupçãozinha fuleira”, não é condizente com os “bilhões” e nem se compara com os imóveis comprados pelos diretores da
Petrobrás, indicados pelo PP e antigo PMDB. Só para não deixar dúvidas, o valor do apartamento em Higienópolis equivale a muitas
coberturas fuleiras do Guarujá, por isso mesmo serviu de moradia durante muito tempo ao dono do Banco Safra, aquele multimilionário
falecido naquele incêndio suspeito em Mônaco.
2. O Lula tem apartamento na Avenida Foch, em Paris, em nome de laranja? NÃO, não tem.! Tem fazenda em Luzilandia, DF, também em
nome de laranja? NÃO! Fez reformas em apartamento da amante em Barcelona, confessado pela própria, com dinheiro de origem duvidosa?
NÃO! Pagou pensão ao filho da amante através de negociata? NÃO
3. Qualquer um dos filhos do Lula comprou, durante o governo do pai, uma cobertura no Rio de Janeiro, à época considerada a mais cara
de Ipanema, e quando questionado sobre a origem do dinheiro usado para a compra alegou que o mesmo se originava da divisão de
bens do divórcio, fato negado pela ex-mulher, filha de um banqueiro de Minas Gerais, já falecido? NÃO! Aliás, a ex-mulher do dito cujo
ainda afirmou na imprensa: ” o meu pai exigiu que o casamento fosse realizado com separação total de bens, por que não confiava muito.”
Então, se é para falar dos “bilhões” desviados da Petrobrás, é preciso que as investigações retrocedam aos anos de 1990. É preciso
que um certo ex-genro de um certo ex-presidente seja chamado a depor. É preciso investigar sem conotação ideológica ou partidária.
É preciso apontar TODOS que REALMENTE fizeram uso indevido dos recursos da Petrobras, e de TODOS AQUELES QUE NOS DIAS DE
HOJE ESTÃO “VENDENDO ” A PREÇOS AVILTANTES UM PATRIMÔNIO NACIONAL.
O resto é pura fuleragem ! Aliás, muito bem representada na “homenagem” prestada pelo prostíbulo de luxo, em São Paulo, aos
considerados “heróis” no momento, Moro e Carmem Lúcia.
Nem o Stanislau Ponte Preta, se ainda fosse vivo, conseguiria fazer um enredo melhor.
Lula homenageado pelo povo. Moro e carminha pelo cabaré. Quanta ironia
Mestre Gonzaga Rodrigues consegue, num brilhante texto, sintetizar o sentimento de milhões. Lucidez de sobra, num momento de trevas. Parabéns, mestre!