Memórias

Era um mundo tão bom…

7 de abril de 2020

As noites de confinamento são mais longas. Intermináveis. A gente dorme, dorme, dorme e quando acorda ainda é noite. E o silêncio lá fora, o mundo vazio, sem um pé de gente, dando a sensação de que estou só, que todos morreram ou foram morar noutro planeta. E a gente garra a imaginar coisas, a pensar besteira, a ver o caminho mais curto, o ontem mais comprido do que o amanhã, a finitude dos dias.

E aí sentimos que é muita bobagem levar em consideração raivas fúteis, disputas inócuas, desejos de vingança e perda de tempo com coisas miúdas.

Quando se vai, nada disso vai junto. Só tem o buraco escuro e as lacraias lá dentro para comer a carne.

Esse vírus, se mete medo como de fato está metendo, está servindo para ensinar os confinados a descartar um balaio de baboseiras que antes eram guardadas como tesouros.

E a dar valor as pequenas coisas que um dia estiveram ao alcance da mão e foram descartadas.

A madrugada e o silêncio dela me transportam para a roça. Sim, a roça do meu pai. Os pés de milho penduando a espera da espiga, o feijão rasteiro enchendo o chão de bajes, o riacho lá na frente servindo de palco para o cantar dos sapos, a panela de barro fervendo no fogão a lenha, a carne seca torrando no caco, o céu de nuvens escuras mandando mais chuvas, o menino se jogando nas poças de lama e enxotando o bando de rolinhas escondidas nas moitas de mussambê.

Era um mundo bom. Tão bom que se esvaiu. E não pode mais voltar.

E era tão simples, tão ao alcance da mão…

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6 Comentários

  • Reply Nicodemus de Uiraúna-PB 7 de abril de 2020 at 09:05

    Haaaaaaa,que belo mundo o narrado pelo Dr Tião.Mas,não ficarão pedras sobre pedras.Nós,só DEUS sabe o que nos espera.Recorramos ao principe dos Profetas.ISAIAS, ele é o profeta da ESPERANÇA e,nos ensina vivermos alegres e,convictos de que o REI dos Profetas – JESUS DE NAZARETH, não nos abandona e tem uma grande morada,para onde iremos todos vivermos ao lado do PAI,livres das pendengas dessa vida marvada e deste mundo desvairado.

  • Reply jsmoura 7 de abril de 2020 at 10:44

    Descrição perfeita da minha quase infância

  • Reply DINDA 7 de abril de 2020 at 12:14

    Tião, você só esqueceu de dizer que cagávamos no mato e limpávamos os respectivos “frezados” com folhas de marmeleiro. E depois, tomar banho no Açúde Grande.

    • Reply Sebastião 7 de abril de 2020 at 13:00

      Eu preferia o sabugo, que limpava melhor e ainda coçava

  • Reply EDGAR DE PRINCESA 7 de abril de 2020 at 14:57

    Bastião, essa casa que você postou a foto no início da matéria não é estranha e deve ser aqui no nosso município. Pode dizer onde está localizada e o seu proprietário ?

  • Reply JOSÉ PAULO 7 de abril de 2020 at 22:13

    Essa casa pertenceu aos Mouras no século passado e fica entre Princesa e São José. Mas está diferente dessa foto, porquanto encontra-se em ruínas.

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