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Esse ingrato coração

20 de fevereiro de 2022

Os filhos de Tia Maria eram mais do que primos, eram irmãos. Tia Maria era uma espécie de mãe, além de tia e irmã do nosso pai.

Nos recebia com cara de festa quando a visitávamos em Afogados da Ingazeira, terra que adotou desde quando casou com Messias, o grande amor da sua vida.

E era nosso porto seguro.

Ainda lembro daquele par de camisas com listras vermelhas no sentido vertical que nos deu de presente, a mim e a Edmilson, para não passarmos o natal sem a roupa de festa.

Os primos então eram de uma intimidade tão grande que nem primos pareciam, eram irmãos.

Meu velho tinha xodó por Lulinha, o mais velho, e por Lu, sua afilhada.

Eu me aproximei mais de Nivaldo, o Cascão. Éramos da mesma idade. Ele um pouquinho mais velho. Mas só um pouquinho.

Craque de futebol, comunicativo, a alegria em pessoa, chegou a ser vereador da cidade.

Uma pessoa que vivia a sorrir, a alardear alegria, a desconhecer tristeza.

Só que hoje, pela madrugada, ele nos deixou tristes.

Morreu dormindo, do coração.

Seu coração enorme parou de madrugada para não incomodar os outros.

Ele era assim, servia a todos, mas não se servia de ninguém.

Se estou triste? Claro que estou.

Perdi um primo, um amigo, um irmão.

E descobri, mesmo a contragosto, que  a minha senha está bem pertinho de ser chamada pelo caixa do céu.

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