Kubi Pinheiro
Escreveu W. G. Sebald que à sua volta tudo se desumaniza ou desaparece e que, inclusive, a própria História se desvanece. Estava certo. E que neste processo de aceleração é melhor a gente ir se acostumando com os perdidos e achados. Eu acho. Mas Sebald já foi. Nem Musil, (Robert ), que me apresentou “O homem sem qualidades”. Tudo passa, já passou, dizia Seu Vicente Pinheiro, nascido no Brejo do Cruz.
Nem tudo passa. Estou cansado de tanto me ver passar nas vitrines, como se eu fosse o vigia da canção, catando a poesia, que entornas no chão. Nem poeta soul.
Joel Falcone que partiu recentemente, era uma pessoa com quem tive poucas conversas, um homem bom, mas parecia às vezes aborrecido e tinha razão de ser ou parecer.. Lembro de quando nos aproximamos: almoçávamos juntos eu, ele, Giselda e a filha Lorena, no Restaurante Blu´nelle do centro. Naquele tempo a cidade ainda estava de pé e funcionava com seus sapateiros e a antiga farmácia de Silvia Teixeira, onde eu costumava comprar o pão integral de George.
Bem antes, quando comecei a frequentar o Clube dos Amigos do Vinho, (Joel era o fundador e presidente), no salão grande do Sonho Doce. A cena de Joel ao microfone me lembrava os filmes de Federico Fellini. Era incrível ele bater com a mão no microfone que fazia barulho, pedindo silêncio. Joel era o máximo. Joel está em silêncio.
Foi Joel quem me deu um armário de ferro, desses de escritório, onde está guardada parte da minha história: com meus textos no Jornal O Norte e centenas de entrevistas que fiz para o Jornal Correio, além de colunas em outros jornais – O Momento e A União. Todas às vezes que abro e mexo nesse armário, adoeço. De tão amareladas as páginas, já nem posso chamar de memória. Cof, cof, cof.
De longos tempos pra cá, escrevi um texto provinciano sobre os lugares pertinho da minha casa: a escola de meu filho Vitor, a padaria, as caminhadas, Pilates e, incluí a casa de Joel & Giselda, na Torre Avis Rara, em Tambaú. Comecei a passar na porta do prédio e pegar o Caderno Ilustrada, da Folha. Depois pedi que deixassem a Folha toda. Eu gosto muito desse jornal, desde que vim morar no litoral há 40 e tantos anos.
Joel morreu de repente e nem sei como agradecer todo esse tempo de leituras prazerosas que sempre aumentam a minha capacidade de aprendizagem e o papel fundamental que isso representa na história do K.
Ainda pensando em Sebald que em “Os anéis de Saturno”, nos oferece uma admirável síntese do que é a literatura, sempre que decifro e não sou devorado, um rastro aqui, outro ali, já há muito adiantando no tempo ou no vinho, que possa continuar visível aqui, no papel, Joel era um homem incrível, que conhecia muito de vinhos. Nunca vi duas pessoas numa só: ele e Giselda. Soube através da irmã dela, Zélia Ramalho, que quando Joel conheceu Gilelda, ela era uma mocinha, logo se apaixonaram e se casaram. Ilustríssimo Joel e “Ilustrada”, Giselda Falcone.
Claro que eu sempre gostei muito mais de Giselda, pela delicadeza, pelo riso bonito, o jeito carinhoso de me chamar de Kubi, pela vida que continua e assim a gente vai virando folhas, sem pensar em folhas secas, mas nas vidas cheias que Graciano Ramos nos ensinou de outra maneira.. Obrigado Joel, sua vida valeu!
Kapetadas
1 – Quantos meses faltam pra acabar agosto?
2 – O mundo não é seu. Você que é do mundo.
3 – Minha mãe me perguntou um dia se poderia me levar pro psiquiatra por causa da minha obsessão pelo delírio. Respondi: É tarde, Mamis!
4 – Vou criar um quadro na Rádio K só com as neuras da Anita
5 – Quem não tá exausto mentalmente não viveu esse 2019 direito.
6 – Som na caixa: “Foi um sonho, graças a Deus, Um sonho, nada mais, Eu vou deixar de ler jornais!”, Chiquinho Sales
4 Comentários
show de bola
Tião, me mandaram umas imagens agora, parace que o negócio tá feio!!! A convocação do Mago resultou em tremendo fiasco!!!! É vero??????
Pois num tá não. Aguarde
Bastião, cadê tu, mancebo ? Manda notícias de Monteiro, Oh cara pálida. Parece que deu errado ?