Hoje cedo saí de casa e fui ver o lado velho de João Pessoa. Queria matar saudades, relembrar os pastos antigos, as lojas que faziam a festa dos clientes e dos vendedores, a Maciel Pinheiro das peças de automóveis e dos materiais de construção, se possível os dois velhos cabarés que ainda teimavam em existir nos fins dos anos 70.
O que vi não matou minhas saudades, aumentou. Não encontrei mais nada, só escombros. Calçadas destruídas, lojas fechadas, as que continuavam abertas exibiam vendedores estáticos a espera do freguês que nunca chegava, cadê o frenesi da Maciel?
A Praça da Gala deserta, as putas desertaram, foram a cata de outras plagas, cientes de que panela vazia não dá de comer a ninguém.
Ainda encontrei Manuelito e Cristiano Machado, que me convidaram para beber água numa biboca do antigo Parahyba Palace. Não existe mais o café São Braz de tantos cafezinhos regados a fofocas, as lanchonetes murcharam, a loteria que ficava ao lado da lanchonete de Zezinho ainda está no local, sem brilho, sem gente.
Moças se postam nas calçadas mal-cuidadas oferecendo óculos e exames de vista. Também oferecem dentistas, sorrisos para os banguelos, que passam ao largo cansados de tantos desencantos.
No velho Ponto de Cem Réis uma meia dúzia de aposentados espia o tempo passar. Também se postam ali os cachaceiros pés inchados, que se embriagam para dormir e acordam para se embriagar.
À mocinha que me vendeu o shampoo para cabelos brancos perguntei o que era aquele abandono.
– Aqui todos somos filhos sem pai.
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O comércio do centro do Recife também está desse mesmo jeito, sem gente e com muitas lojas fechadas. Pior que João Pessoa, porque lá já foi muito maior e mais movimentado que o nosso. Só em Campina Grande o comércio do centro ainda continua movimentado e atraindo gente dos quatro cantos da cidade e dos municípios vizinhos. Desde que as repartições públicas deixaram o centro, acabou-se a necessidade de ir pessoalmente às agências bancárias para pagar conta e receber dinheiro, e as lojas se mudaram para os bairros e shoppings, que o comércio do centro e as empresas de ônibus perderam a freguesia.
Saudade da João Pessoa de Damásio Franca!