Marcos Pires
Como não poderia deixar de acontecer, essas gigantescas filas que se formaram nos postos de gasolina em consequência do movimento dos caminhoneiros geraram uma interação nunca antes vista entre os proprietários de automóveis sequiosos por comprar muito mais caro a gasolina nossa de todos os dias.
Negócios começaram a ser discutidos e fechados, antigas amizades escolares foram relembradas, romances foram engatados e até um chifre foi flagrado. De início eu não acreditei muito nessas conversas, mas fui pessoalmente conferir, e logo fiquei impressionado com o comercio que se estabeleceu naquelas filas. Lembram daquele afro-descente Jacaré? Pois é, não tem nem um par de sandálias havaianas decente, quanto mais um automóvel, mas estava na fila vendendo “a vez”. Localizava motoristas que não faziam questão de passar para trás na ordem de atendimento em troca de uma grana e oferecia “a vez” a quem estava na rabeira da fila. Havia começado cobrando 40 reais, mas já estava nos 75 “contos”, como ele ainda teima chamar nossa moeda. Rachava o capilé com os “proprietários” dos automóveis que concordavam em ceder sua posição. Naquela altura já faturara mas de 300 reais.
No entanto, negócios muito mais substanciosos estavam sendo realizados. Soube de fonte segura que corretores de automóveis saíram das agencias pilotando veículos dos estoques, colocando-os nas filas e oferecendo trocas vantajosas aos motoristas que pacientemente esperavam horas para abastecer. Quando havia hesitação do incauto, davam a cartada final: “- Olha só, chefia, além do prazo de 36 meses para pagar a diferença, ainda dou o carro com o tanque cheio”. Tiro e queda.
Além dos negócios um outro fator me chamou a atenção; as paqueras descaradas que estavam rolando entre os sequiosos motoristas. Cantadas de toda sorte(?), algumas terríveis, como aquela do pedreiro que pilotava uma moto de cilindrada mínima: “ – Gatinha, posso completar o seu tanque? ”, e em seguida fez uma comparação da mangueira da bomba de gasolina com o seu… deixa pra lá.
Como não podia deixar de ser, um candidato a deputado apareceu na fila fazendo sua propaganda eleitoral, prometendo de um tudo. Igualzinho aos outros, mais com um diferencial; sua equipe de campanha assumia o lugar dos motoristas enfileirados nos postos e ia acompanhando a fila vagarosamente, enquanto os proprietários dos veículos eram levados a um trailer estacionado do outro lado da rua, onde tomavam agua gelada e cafezinho.
O chifre? Ah, leitores, o candidato descobriu a esposa na garupa de uma possante moto, cujo jovem e marombado condutor esperava a vez de abastecer. A partir daí foi o que se viu.
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