Frutuoso Chaves
Duas capelinhas erguem-se como testemunhas da história, na zona rural de Cruz do Espírito Santo, à pequena distância de João Pessoa. Ambas resultaram de promessa feita por um ajudante do Capitão Rebelinho, cujo grupo havia emboscado um contingente inimigo, no período da invasão holandesa Ainda celebrando o sucesso da empreitada, esses homens foram surpreendidos pelo ataque inesperado de uma tropa invasora que, em maior número, deles se aproximava. O Rio Paraíba, cheio, impedia-lhes a fuga. Só restava recorrer aos Céus E foi, exatamente, o que fez o auxiliar do Capitão. Prometeu erigir duas Capelas, se dali ele e seus companheiros saíssem com vida. Nesse momento, o Índio Filipe Camarão chegava ao local à frente de outro bando armado. Apanhados em fogo cruzado, os holandeses fugiram. Pois bem, da citada promessa surgiriam as Capelas do Socorro e da Batalha. O saudoso Odilon Ribeiro Coutinho contava essa e outras histórias do gênero como ninguém. Ele tinha o Vale do Rio Paraíba – incluídos os engenhos de açúcar de Pilar e São Miguel de Taipu, palco de romances de José Lins do Rego – como área de profunda evocação lírica e histórica. Odilon disse-me, certa vez, que Gilberto Freyre tinha no alpendre da Capela do Socorro (também usada por trabalhadores rurais para dois dedos de prosa, a caminho do eito) uma das provas cabais da intimidade que os nordestinos estabeleceram com os santos de suas devoções. Mas outras histórias dão motivo menos edificante a esse mesmo espaço: o terraço separaria os mais pobres dos mais ricos durante os cultos. Portas fechadas e ninguém para atender é o que espera o visitante porventura interessado nesses dois monumentos vivos da história da Paraíba. Falta, também ali, aviso ou placa indicativa de procedimento necessário ao agendamento das visitas. Isso também faz falta aos cada vez mais depauperados calendários turísticos aqui sazonalmente editados para as festas juninas e as praias. Ou seja, para eventos e recantos que, de tão exibidos, já quase dispensam convites. |
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