Por GILBERTO CARNEIRO
QUANDO os europeus aportaram em nossas terras no final do século XV encontraram em torno de cinco a sete milhões de indígenas, reduzidos a 1,6 milhão cinÎNco séculos depois, representando atualmente pouco mais de 0.83% da população brasileira.
– Mas qual a importância disso? Por que um punhado de selvagens miseráveis tem que ter direito à demarcação de terras? É um desperdício. Ouvi isso de um desses seres humanos adjetos cujas ações e pensamentos circundam em torno de uma única coisa: acumulação de riquezas materiais, mesmo que seja às custas da exploração de vulneráveis.
As comunidades indígenas talvez sejam as últimas trincheiras de resistência ao capitalismo selvagem que tudo destrói. Os povos e nações indígenas são aqueles que, contando com uma continuidade histórica das sociedades anteriores à invasão e à colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas jurídicos.
Pois bem, essa semana comemoramos o Dia do Índio. É certo que avançamos em algumas políticas públicas, como a criação no terceiro governo Lula do Ministério dos Povos Indígenas, presidido atualmente pela ativista Sônia Guajajara, cujas atribuições vão desde garantir aos indígenas acesso à educação e a saúde, demarcar terras indígenas, até a árdua missão de combater o genocídio deste povo aguerrido e injustiçado. Todavia, ainda é tímida a quantidade de terras demarcadas, e isso ficou claro nos 100 dias do atual governo quando foram anunciadas apenas duas demarcações nos estados do Mato Grosso e Bahia, frustrando a expectativa dos indigenistas que esperavam a demarcação de seis terras. Ficaram de fora do anúncio as quatro terras que estão aptas para homologação nos estados de Santa Catarina, Alagoas e Paraíba.
Lembram de Legião Urbana? A canção “Índios” na belíssima voz do saudoso Renato Russo expressa bem a dívida histórica que possuímos com as comunidades indígenas. Sua letra é de uma realidade poética e inspiração que emociona até os de corações empedernidos.
– QUEM me dera ao menos uma vez, ter de volta todo o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade, e poderia levar embora até o que eu não tinha;
– Quem me dera ao menos uma vez esquecer que acreditei que era por brincadeira, que se cortava sempre um pano de chão, de linho nobre e pura seda;
– Quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender, que o que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente;
– Quem me dera ao menos uma vez provar que quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante e fala demais por não ter nada a dizer;
– Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante. Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente;
– Quem me dera ao menos uma vez entender como um só Deus ao mesmo tempo é três, e esse mesmo Deus foi morto por vocês. Sua maldade, então deixou Deus tão triste;
– Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda, assim pude trazer você de volta pra mim. Quando descobri que é sempre só você que me entende do início ao fim. E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto, de tudo que eu ainda não vi.
– Quem me dera ao menos uma vez acreditar por um instante em tudo que existe. E acreditar que o mundo é perfeito, e que todas as pessoas são felizes;
– Quem me dera ao menos uma vez, fazer com que o mundo saiba que seu nome está em tudo e mesmo assim ninguém lhe diz ao menos obrigado;
– Quem me dera ao menos uma vez como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente;
– Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda, assim pude trazer você de volta pra mim, foi quando descobri que é sempre só você que me entende do início ao fim.
– E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto, de tudo que eu ainda não vi. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente.
– Tentei chorar e não consegui….
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