opinião

INDO A CANOSSA

28 de junho de 2020

 

MARCOS PIRES

     No século XI, tanto os papas como os monarcas tinham poder para a “investidura”, ou seja, podiam ambos nomear bispos da igreja católica. Naquela época o Papa Gregório, ao contrário de outros papas antes dele, decidiu assumir a prerrogativa de nomear bispos com exclusividade.

O rei Henrique IV, da Alemanha, revoltou-se porque necessitava desse poder já que metade das terras e riquezas do reino estavam nas mãos dos bispos, e o rei necessitava delas para impor-se à frente da aristocracia. Por isso o rei não somente não obedeceu ao Papa como nomeou novos bispos para regiões da Itália. O Sumo Pontífice mandou-lhe uma carta censurando seus atos, mas mantendo as portas abertas para a conciliação. Mas era firme em sua missiva: “Gregório, bispo, servo de Deus,, para Henrique, o rei, isto é, se se mantiver obediente à Sé Apostólica, como compete a um rei cristão. Como nós esperamos que a infinita paciência de Deus ainda o conduza ao arrependimento e o que faça mais sábio e com o coração mais disposto a obedecer a Deus, nós o advertimos, com amor paternal, para considerar quão perigoso é colocar a sua honra acima da Dele…”.

     O rei Henrique tomou-se de ódio enorme, e respondeu ao Papa: “Henrique, rei não por usurpação, mas pela sagrada ordenação de Deus, a Hildebrando, não papa, mas falso monge…”. Seguia dizendo que estava livre de obediência ao Papa e exigia a sua abdicação.

O Papa Gregório imediatamente excomungou o rei. O resultado dessa excomunhão é que os nobres que acompanhavam o rei abandonaram-no com medo de também serem excomungados.

Sozinho, o rei decidiu voltar atrás e numa reunião com os príncipes germânicos anunciou sua decisão. Eles não aceitaram, condicionando a volta de seu apoio ao levantamento da excomunhão por parte do Papa, chegando a marcar uma data para isso. Se o Papa não levantasse a excomunhão até o dia 22 de fevereiro de 1022, o rei estaria abandonado para sempre e eles, príncipes, iriam escolher um novo rei em uma reunião presidida pelo próprio Papa na cidade de Augsburg, para onde o Papa, inclusive, já se deslocava vindo de Roma.

O rei então decidiu partir ao encontro do Papa, mas não como rei e sim como peregrino. Acompanhado apenas da esposa e do filho, sem qualquer pompa, atravessou os Alpes num dos mais violentos invernos da época, até chegar ao Castelo de Canossa, ao norte da Itália, perto de Parma, onde estava hospedado o Papa. Vestido como peregrino, sob frio intenso, Henrique suplicou por três dias em frente ao portão fechado do castelo. O que segue é a fala do Papa Gregório.

“Depois de muito postergar minha decisão (o rei já havia enviado-me vários emissários) e depois de muitas consultas com seus enviados, nas quais fizemos as mais severas condenações dos seus excessos, ele veio a nós, por sua própria vontade, sem mostrar nem hostilidade nem atrevimento, à cidade de Canossa, onde nos encontrávamos. E lá, deixando ao chão todos os símbolos de realeza, descalço e vestido com a mais comum das lãs, ele ficou em pé e esperando por três dias na frente do castelo, sem desistir de implorar, com muitas lagrimas, até que conseguiu comover a todos lá presentes, que a nós vieram suplicando pelo seu perdão. Finalmente vencido por sua persistência e pelas suplicas de todos que lá estavam, nós decidimos revogar o anátema e recebê-lo, no favor da comunhão e no seio da sagrada mãe igreja”.

A humilhação, o arrependimento e o reconhecimento do erro permitiram a Henrique recuperar o trono, mas a partir de então somente coube ao Papa a designação dos bispos.

Qual o político que você acha que precisa ir a Canossa?

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1 Comentário

  • Reply Paulo Josafá de Araujo 28 de junho de 2020 at 08:13

    Bom dia,
    Meu Jurista e Historiador Dr Marcos Pires.
    Muito boa como sempre sua coluna, a propósito que pediu arrego é que o serviço de Informações dele que devia ser igual ou melhor do que Serviço de Informações de Bolsonora(Particular).Deve ter avisado ao Rei que estava em curso “Santa Inquisição”(e chegou no Século XII).

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