A esposa diz que é coisa da idade. As oito horas de sono foram abreviadas, o dormir começou mais cedo e o acordar, fora de hora. Por isso esse relógio biológico atrapalhando o compasso da vida, deixando o dono do compasso assistindo a noite silenciosa esparramar-se sobre a terra com seu silêncio cheio de mistérios.
Mas eu noto que não estou sozinho.
Olhando o zapzap vejo outras pessoas implorando pelo sono.
A moça aqui do lado pergunta por ele: -Sono, onde estás?”
E o sono calado, sinistro, malvado, olhando de longe e fazendo pouco.
Se bem que um ex-amigo dizia-me que trocava a noite pelo dia. Trabalhava nas noturnas e dormia com o sol. Invertera as bolas desde as cancelas do Fisco, quando o obrigavam a tirar plantão vigiando os contrabandistas que tentavam iludir os guardas do imposto para não pagar o dito cujo.
A gente medita e pensa besteira ao mesmo tempo. A besteira é aquela de sonhar com uma riqueza que não vem mais. E a meditação mete medo, porque nos obriga a espiar pra trás e constatar que a estrada percorrida é bem mais longa do que a próxima etapa da viagem.
Mas não é isso que me tira o sono. Também não me deixa insone o pecado que não cometi. Disso aí não tenho medo. Se fosse por isso, dormiria o sono eterno.
A culpa, repito, é do tal relógio biológico, que começa a funcionar quando as outras coisas da gente já funcionam no empurrão.
E agora eu dou aquela paradinha estratégica porque me apareceu um cochilo e não sou besta de jogá-lo pela janela.
Inté.
2 Comentários
Ainda bem, Tião! Eu já tava preocupado, pensando que era somente eu que ficava, uma hora dessa, perambulando pelo meio da casa, pisando bem maneirinho pra não acordar os que dormem. Agora eu faço como o advogado/cronista Marcos Pires: Que cousa!
Estou nessa, eita coisa ruim!!