Memórias

IRERÊ, NA BAIXA VERDE, ONDE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA NÃO MERECEM O MENOR RESPEITO

14 de julho de 2020

O lugar ainda é bonito, cercado de verde, o Pico do Pau Ferrado, com seus 1.090 metros disputando com o Jabre de Maturéia o lugar de mais alto do Estado, continua enfeitando a sua moldura, e os casarões, os poucos que ainda restam, testemunham, a muito custo, a fartura e o progresso que um dia fizeram parte da rotina de Patos de Irerê. Mas é só isso. Na ruazinha, alguns gatos pingados sentam-se nas calçadas para falar do inverno. Lá na frente, um moço separa o feijão da casca, outro bate as bajes estendidas no chão com uma vara de marmeleiro. Cadê Marcolino, o caboclo que amava Xandu? Nem ele, nem ela. Ambos foram para o além, os filhos que ficaram não cuidaram de suas memórias e Patos virou fantasma verde, sem viço.
Aqui morou Marcolino Pereira, filho da matriarca Maria Augusta Pereira Diniz, a famosa Doninha, filha mais velha do coronel Marcolino Pereira Lima e irmã do coronelíssimo José Pereira, de Princesa. Aqui nesta casa ele viveu com Xandu, sua esposa e eterna namorada, aquela que Luiz Gonzaga imortalizou com o baião “Xanduzinha”, no qual contava o amor dos dois: “Caboclo Marcolino/tinha oito bois zebu/uma casa com varanda/dando pru norte e pru sul/seu paiol tava cheínho/de feijão e de andu/sem contar com mais uns cobres/lá no fundo do baú/Marcolino dava tudo/por um cheiro de Xandu”. Em 30 a polícia invadiu Irerê e fez Xandu refém. Marcolino cercou o povoado, meteu fogo na polícia e a briga durou três dias. Matou a metade dos meganhas e a outra escapou porque escapuliu nas capoeiras. Eis o que restou: uma casa velha, semi-abandonada, como abandonado está todo o povoado de Patos de Irerê.
Neste imenso casarão morou o Major Floro Florentino Diniz, o Senhor dos Patos. Era o homem mais rico da região. Tinha mais posses do que Zé Pereira. Graças a ele, Patos de Irerê, um microclima ao sul de Princesa, na Serra da Baixa Verde, divisor de águas da Paraíba com Pernambuco, a mais de mil metros do chão, ganhou energia elétrica antes de Princesa saber o que era isso. O major tinha usina de açucar e fábrica de vinhos. Quando casou a filha com Marcolino, conta-se que fez festa que ficou famosa em todo o sertão. Só de bois, mandou matar 21 e por muitas décadas, no sertão, as bodas de Xandu se tornaram referenciais de tempo: as coisas aconteceram antes ou depois do casamento de Xandu e Marcolino. Pois a casa do Major virou saudade, fantasma, alma penada. O mato a cercou, lá dentro ninguém entra porque os maribondos se apoderaram das dependências. A primeira coisa que o vizinho avisa ao visitante que de lá se aproxima é: “Não entre porque os maribondos lhe pegam”.

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6 Comentários

  • Reply Margarida 14 de julho de 2020 at 10:05

    Tião, quem vai de Princesa para Triunfo passa por Patos dos Irerês ?

    • Reply Sebastião 14 de julho de 2020 at 11:49

      Necessariamente não

  • Reply DJALMA 14 de julho de 2020 at 12:15

    Vamos explicar melhor para esclarecer a leitora Margarida. Patos do Irerê é um distrito do município de TRIUNFO-PE. Fica localizado a 14 km na direção noroeste de TRIUNFO. Estrada de barro. Quem viaja de PRINCESA ISABEL-PB para TRIUNFO-PE, não passa por Patos do Irerê, em virtude de sua localização geográfica. Desculpem minha empolgação, mas eu nasci em uma fazenda na Serra de Santa Cruz da Baixa Verde, próximo de TRIUNFO-PE. Sou aposentado do BB e resido em CAMPINA GRANDE-PB., há 42 anos.

    • Reply Sebastião 14 de julho de 2020 at 18:17

      Corrigindo, Patos de Irerê foi povoado pertencente a Princesa e hoje pertence a São José de Princesa.

    • Reply Rena Bezerra de São José 14 de julho de 2020 at 23:22

      Djalma meu amigo, vc nascer na serra da baixa Verde e dizer que Patos de Irerê pertence a Triunfo? Já vi que a Serra que vc nasceu e morou foi outra, menos essa aqui que faz divisa PB/PE. Patos de Irerê foi Princesa e hoje pertence a São José de Princesa onde moro.

  • Reply MARIZARDE GERALDINO DOS SANTOS 14 de julho de 2020 at 22:32

    E os políticos da região porque não tomam nenhuma providência para não deixar morrer esse pedaço da nossa história?

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