MARCOS MAIVADO MARINHO
Campina Grande, internacionalmente conhecida como a cidade da inovação, sobretudo no campo da tecnologia, área onde inclusive há muito tempo passou a exportar softwares e talentos para importantes mercados da Europa, da Ásia e da América do Norte, acaba de ser identificada como substancial parte responsável pela eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.
Pelo menos dois filhos da Rainha da Borborema contribuíram decisivamente para o inesperado sucesso do projeto que acabou levando o ex-capitão do Exército brasileiro ao posto de principal mandatário da Nação.
Um deles, o multimidia Lucas Sales que foi responsiavel pelo marketing eleitotal, já tinha sua identidade revelada nacionalmente. O outro, que praticamente atuou nas “sombras”, é agora identificado como o líder do chamado “gabinete do ódio” nas redes sociais, que existiria na internet para beneficiar conteúdos ligados a Jair Bolsonaro, e seria o elo mais forte entre o presidente e as páginas derrubadas pelo Facebook nesta quarta-feira (08).
Chama-se Tercio Arnaud Tomaz, filho do ilustre casal de campinenses Jairo e Marlene Arnaud, ela graduada servidora do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba e sobrinha querida do saudoso desembargador Rafhael Carneiro Arnaud.
Marlene e o esposo, mais os filhos (03), integram o higt society campinense e se enquadram no chamado mundo da elite paraibana, possuindo uam legião de grandes amigos aqui e alhures.
O filho agora famoso passou a ser – mesmo por vias transversas e em tese criminosas – um orgulho para o povo de Campina Grande.
Ele foi objeto de uma reportagem da BBC News Brasil, reproduzida no portal de notícias UOL, que apontou como ele saiu de Campina Grande para trabalhar com a família Bolsonaro em Brasília.
Segundo a reportagem, Arnaud é apontado como parte de um esquema de publicações falsas nas redes que favoreceriam Bolsonaro.
Assessor especial da Presidência da República e apontado como o líder do chamado “gabinete do ódio”, termo para designar um grupo dentro do Palácio do Planalto que supostamente dissemina mensagens difamatórias contra adversários de Bolsonaro e cuida de suas redes sociais, Tércio tem salário bruto de R$ 13.623,39 e o Planalto nega que exista um grupo do tipo na estrutura institucional da Presidência.
O Facebook tirou do ar uma rede de perfis, páginas e grupos ligados a partidários de Bolsonaro no Facebook e no Instagram, que também pertence à empresa, por serem contas inautênticas, uma violação de suas políticas. Segundo o Facebook, a rede estaria sendo usada para enganar pessoas sobre sua origem e sobre quem estava por trás da atividade.
O Laboratório Forense Digital do Atlantic Council, que analisou as páginas antes de serem derrubadas pela plataforma e investigou a rede de contas e notícias falsas, aponta Tercio como administrador da página de Instagram @bolsonaronewsss. Seu nome não consta na página, mas o e-mail [email protected] aparece em seu código-fonte (conjunto de códigos por trás de uma página com “instruções” para que um programa ou página funcionem, onde também ficam outros dados da página) e foi registrado pelo grupo que estuda desinformação.?dc=5550001580;
ENTENDA TUDO
A BBC News Brasil encontrou um perfil com o nome de Tercio, sua foto e este mesmo e-mail no site “Troca Jogo” para troca de videogames, acessado pela última vez em 2013, o que reforça a tese de que ele utiliza este endereço de e-mail e, portanto, seria administrador da página Bolsonaro Newsss, como apontado pelo laboratório do Atlantic Council.
O perfil de tercio em site de videogame mostra o mesmo e mail usado em perfil de instagram bolsonaro newsss 1594312346291 v2 750×421 – BOMBA: O paraibano Tercio Arnaud é o líder do ‘Gabinete do ódio’ e trabalha para Bolsonaro, denuncia BBC News – ENTENDA TUDO
O conteúdo do Bolsonaro Newsss, segundo o documento, misturava “meias-verdades” para chegar a conclusões falsas. A página tinha 492 mil seguidores e mais de 11 mil publicações antes de ser derrubada.
Além disso, o relatório do grupo do Atlantic Council mostra como uma página do Facebook de nome quase igual, “Bolsonaro News”, publicava as mesmas coisas que o perfil do Instagram, também atacando ex-aliados de Bolsonaro, embora não conclua que Tercio administrasse essa página.
Os posts teriam sido publicados durante “horário de trabalho” e, por isso, é provável que tenham sido publicados nas plataformas enquanto Tercio trabalhava durante o dia no Planalto, diz a análise do Laboratório Forense Digital do Atlantic Council.
A BBC News Brasil entrou em contato com Tercio Arnaud Tomaz por e-mail questionando o funcionário do Planalto sobre essas alegações, mas não obteve resposta até a conclusão da reportagem.
BOLSONARO OPRESSOR 2.0
A página “Bolsonaro Opressor 2.0”, criada em 2015, publicava memes de Bolsonaro e imagens agressivas contra seus adversários políticos. Tercio foi apontado como autor da página, que tinha milhares de seguidores. Segundo o jornal O Globo, seu nome constava como autor de algumas de suas publicações.
Antes de trabalhar com as redes da família Bolsonaro, Tercio trabalhava como recepcionista em um hotel, de acordo com o jornal. Ele é formado em biomedicina por uma faculdade de Campina Grande.
Em 2017, entre abril e dezembro, trabalhou oficialmente com Jair Bolsonaro em seu gabinete na Câmara dos Deputados, recebendo R$ 2,1 mil mensais, ainda de acordo com O Globo.
Depois, em dezembro de 2017, foi nomeado para o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara dos Vereadores do Rio, com salário de R$ 3,6 mil. Segundo reportagem de agosto de 2018 do jornal O Globo, apesar de ser empregado no legislativo carioca, Tercio continuou trabalhando diretamente para Bolsonaro, sem frequentar o local oficial de emprego.
Tercio frequentava a residência do empresário Paulo Marinho, que serviu de comitê para a campanha de Bolsonaro em 2018, segundo depoimento do próprio empresário à CPI. “O Tercio era uma pessoa que acompanhava ora o Capitão Bolsonaro, ora acompanhava o Flávio Bolsonaro”, afirmou Marinho.
Quando Bolsonaro deu sua primeira coletiva como presidente eleito, em 1 de novembro de 2018, foi Tercio, como assessor da campanha do então candidato, quem fez o credenciamento de jornalistas que excluiu jornais como o Estado de S. Paulo, a Folha de S.Paulo, O Globo e outros veículos, segundo reportagem do Estado. “Por mensagens pelo WhatsApp, Tercio respondeu aos jornalistas dos veículos barrados que eles não poderiam entrar ‘por questões de espaço’”, registrou o jornal.
Já como presidente, em agosto do ano passado, a página de Bolsonaro no Facebook compartilhou um post do perfil “Bolsonaro Opressor 2.0”, atribuído a Tercio. A publicação chamava o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, de “esquerdista estilo PSOL”.
“GABINETE DO ÓDIO”
E então, no quarto dia de governo de Bolsonaro, o presidente nomeou Tercio e depois José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, para cargos em seu governo, formando o que seria o tal “gabinete do ódio”.
Segundo apuração de diversos veículos de imprensa, o “bunker” estaria instalado em uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, próximo do gabinete presidencial.
Os três foram chamados para prestar depoimento na CPI das Fake News.
BOLSONARO NEWSSS
A página “Bolsonaro Newsss” no Instagram, atribuída a Tercio pelo Laboratório Forense Digital do Atlantic Council, publicava conteúdo enganoso, segundo a análise do grupo. Os posts diziam, por exemplo, que a reação à pandemia de coronavírus foi exagerada, e que a hidroxicloroquina, substância cuja eficácia e segurança contra o coronavírus não foram comprovadas cientificamente, poderia matar o vírus.
Uma publicação, por exemplo, sublinhava declaração de uma especialista da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que a disseminação assintomática da covid-19 era “muito rara”, sem incluir a clarificação posterior de que isso ainda não foi esclarecido por cientistas.
Outras publicações incluem: uma comparação do então candidato presidencial Fernando Haddad a Mussolini, uma foto de Eduardo Bolsonaro com uma arma, “esperando” pelo candidato Guilherme Boulos, e memes ridicularizando o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o governador do Rio, Wilson Witzel.
2 Comentários
Colocar o próprio email no código fonte de algo assim só pode ser certeza da impunidade, ou arrogância pura.
O jornal ESTADÃO noticia hoje que o Carlos Bolsonaro planeja se mandar para os Estados Unidos para se livrar das investigações das Fake News, e da pressão causada pela derrubada das páginas do Facebook e do Instagram.
O já apontado pela PF como chefe do tal gabinete vai se mandar, e deixar que os paus mandados paguem o pato.
Será isso motivo para orgulho?
O ministro Alexandre de Morais é amigo dele?