opinião

Iter criminis

10 de janeiro de 2024

Miguel Lucena

A raiva era grande. Nunca ele havia sido tão desfeiteado. Apenas porque jogou amido de milho na cabeça do conhecido de boteco, comemorando a vitória do Cancão sobre o Gavião de Juru, o dono do estabelecimento o chamou de tudo quanto foi nome desabonador.
– Esse infeliz me paga!
Na cabeça de Catoco, o bodegueiro já havia sido morto. Ele imaginou surpreender o desafeto logo cedo, na esquina que desembocava na bodega.
Armou-se, escondeu-se por trás de um algaroba e o pegou de surpresa. Deu-lhe quatro golpes na barriga, dizendo-lhe, com os dentes trincados:
– Isso é pra você aprender a respeitar homem!
Catoco fugiu correndo em direção aos tanques da Timbaúba e passou o dia sendo caçado pelos soldados Joaquim e Djalma, sendo finalmente encontrado desacordado em uma moita.
Foi conduzido à presença do delegado, o qual constatou que o assassinato do bodegueiro foi uma mera fantasia de Catoco. Um crime que não passou da fase de cogitação, porquanto, na preparação, ele se armou com um sabugo de milho seco, meio inapto para a realização da conduta criminosa.
Quem passou naquele dia pela bodega da Rua do Cancão viu o bodegueiro conversando mole e mostrando quatro ronchas no pé de umbigo.

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