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   Já dizia meu avô…

27 de outubro de 2019

                   Marcos Pires

 É impressionante como aumentou a quantidade de golpes via internet à medida que evoluem as proteções tecnológicas da rede. Até parece que há uma proporcionalidade perversa dessas duas situações, com franca vantagem para os vigaristas.

            Durante a semana foi preso um bandido que teria explorado 150 mulheres. O modus operandi do safado era de uma simplicidade incrível; oferecia um pagamento por fotos que a futura vítima, conhecida via redes sociais, lhe remetesse. A seguir enviava um comprovante de deposito de mil reais e imediatamente após ofertava uma quantia dez vezes maior por fotos mais ousadas. Muitas topavam, e quando descobriam que aquele primeiro pagamento era fake, já estavam nas garras do chantagista.

            Um dia atendi no meu escritório um cidadão integro, setentão, com formação jurídica e aposentado de um alto cargo federal, portanto alguém esclarecido e lucido. Ele recebera a ligação da secretária de um suposto Juiz de Brasília, comunicando importante vitória judicial que rendera 500 mil reais. A quantia estava à disposição, mas se ele não agisse logo o valor voltaria aos cofres públicos. Inclusive indicou um advogado para tocar a causa. O cidadão desconfiou, ligou novamente para o número do telefone usado pela secretária e pediu para falar com o Juiz, que confirmou tudo. O futuro rico então entrou em contato com o tal advogado, que garantiu ser coisa facílima o credito do valor na sua conta. Bastava que pagasse as custas judiciais e mais algumas despesas. A cereja do bolo foi o advogado dizer que não cobraria honorários porque já estava sendo remunerado com honorários de 20% a serem pagos pela União Federal. O cidadão então fez o deposito das tais custas judiciais e despesas, no valor de 20 mil reais, na conta que o advogado informara. A partir daí os telefones para os quais ligara emudeceram para sempre. Eu lhe fiz só uma pergunta: “- O senhor poderia me informar qual a origem desse processo?”. Só então ele deu-se conta de que simplesmente jamais entrara com qualquer ação judicial em Brasília.

                A ligar esses e milhares de outros casos um elo comum; a busca pela vantagem indevida. Contra essa fraqueza humana não existe ferramenta que proteja a internet.

                Como dizia meu avô: “- Quem come usura defeca maçaroca”. Modifiquei a referência intestinal por respeito a vocês, se é que me entendem.

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