Marcos Pires
No meu pouco juízo nunca entrou o fato dos Beatles terem composto aquela quantidade absurda de músicas maravilhosas enquanto eu quase nada fiz. Na verdade eu trocaria toda a minha produção musical por qualquer música de John e Paul, principalmente se fosse Yesterday. Aliás, conta-se que quando eles ainda estavam compondo essa preciosidade, o primeiro termo trabalhado foi “scrambled eggs”, ou seja, ovos mexidos. Fizeram uma excelente substituição optando por Yesterday.
Desde garoto meus pais sempre me levaram para o caminho da música. Enquanto meus amigos jogavam peladas de futebol à tarde, eu era conduzido coercitivamente por minha avó para as aulas do conservatório Antenor Navarro. Enchi o saco daqueles ditados rítmicos; tá- ti-tá-tá breu com cola! Mas gostava do piano. E aí apareceram os Beatles na minha vida. Só que eles tocavam guitarras, e a proximidade máxima que eu e meus primos chegávamos daquele instrumento foi improvisando numas vassouras. Pior ainda, ninguém sabia nada de inglês. Era uma beleza.
Mais taludo, aí já com doze anos, conheci Golinha e Floriano, filhos de dona Alaíde Miranda, muito amiga de minha mãe. Eles tinham o conjunto “Os quatro loucos”; eram os Beatles da Paraíba. De quebra um vizinho do Miramar, Zé Ramalho, e Huguinho, posteriormente parceiros de curtas metragens que fizemos, tendo inclusive Zé Ramalho como ator.
Os que frequentaram as matinês do clube Cabo Branco devem lembrar dos concursos para cantar “a” música de Zé: “Chegou ao fim, mais uma vez…”. Quem sabia a letra ganhava um “piratinha”. Dizem que depois de ter feito “Chão de Giz”, “Avôhai” e outras preciosidades Zé teria renegado aquela primeira música. Pois vou confessar a vocês, leitores; se eu encontrar Zé Ramalho em qualquer esquina e ele confirmar essa conversinha, vou pedir aquela música para mim, porque era o melacueca (no dizer de Tim Mai) mais famoso de minha juventude.
Mas eu estou embromando porque anunciei aqui que já fui compositor. E fui mesmo. Tenho duas músicas; a primeira delas em parceria com Cleodato Porto, composta quando tínhamos catorze anos e inscrevemo-la um festival de música popular. A outra musica eu compus sozinho, no momento em que me avisaram da morte de minha mãe. Quem a conheceu sabe porque fiz um frevo chamado “A chegada de Dona Creusa Pires no céu”.
Pra quem já quis compor Yesterday ainda falta um bocado de chão, né?
Sem Comentários