Aquele moço do sertão que não resistiu ver a namorada na garupa de uma motocicleta dirigida por outro homem e se matou, depois de atirar nela e errar. Morreu de amor doente. Amor que mata e se mata não é recomendado para as pessoas de boa saúde, embora quem ame com paixão na maioria das vezes entre em desespero e faça besteira.
Houve um tempo em que o amor só prestava com sofrência, mas sofrência boa, daquelas que não mata. Tempo bom, tempo de sofrer só pra depois lembrar. Era um sofrimento gostoso, cheio de sonetos e canções cantadas em serenatas noturnas. Nada de tiros, de suicídios ou tentativas de assassinato, como aconteceu com o rapaz do sertão.
Claro que as traições sempre recebiam tratamento de choque. Inúmeros foram os casos de tragédias ocorridas, mas mesmo nelas havia um escorrer de sangue cheio de magia, que transformava os protagonistas em versões mais modernosas de Romeu e Julieta.
Quando o menino de Miguel tocava soprano no conjunto de Zé de Menininha, passou uma noite inteira soprando “Luciana” para um Antônio Gordão apaixonado e saudoso da Hermosa, que terminou sua definitivamente pelos laços do matrimônio. Os amados tocavam e elas, as homenageadas, agradeciam, embora de vez em quando aparecesse algum pai malcriado, sem humor musical para aguentar a zoada.
Feito seu Alfredo Carlos, pai das mulheres mais sexys da Princesa dos anos 60. As filhas de seu Alfredo, quando desfilavam pela Rua Grande, deixavam os rapazes sem respiração, e muitos deles, incontidos nas suas fantasias eróticas, corriam para os ermos, para a solidão.
Certa tarde dos anos 70, estavam os rapazes conversando na calçada da loja de Severino Almeida, quando seu Alfredo chegou e perguntou quem tocara a serenata da noite anterior na porta da sua casa. Todos apontaram para o filho de Seu Miguel. Então ele, educadamente, olhou para o rapaz e sussurrou:
-Menino, você toca muito ruim.
As serenatas não existem mais. O namoro foi trocado pelo ficar. Acabou o amor, os suspiros se foram e a roedeira, moribunda, pede uma cova para se esconder.
Amar desse jeito é amar sem tempero.
Sem Comentários