Kubi Pinheiro
Estou nessa idade em que ainda exploro os limites do mundo, os limites que me cabem. Nunca pensei que João Gilberto ia bem mais. Já estava velho e sofrido. Também estou na idade de ter ou não razão, por isso, sou todo ouvidos em silencio. João Gilberto está morto. Fiquei triste. O sábado morreu antes.
Quando li a notícia de sua morte, fui olhar o jardim, um silencio, mas o vento batia forte nas flores, que me pareciam em prantos. Liguei para um amigo, ele não sabia. Liguei para outro, estava em prantos. Não liguei para mais ninguém. Disse a meu filho, ele continuou ouvindo Pink Floyd.
Tão grande era João, estupendo, que não desistimos nunca dele, dos nossos intentos e alegrias de ouvir João cantar. Atraímos o som do seu violão, um aconchego sensacional. João dócil, manso, como um cão. João cantando tudo.
João sobreviveu ao fim do mundo. Foi sem ver o repetido domingo. João não era da Internet, nem era incrivelmente popular, João era único. Como uma brisa de julho.
Um radioso João, um sol, um mundo de canções. E João aconteceu muito. Era imenso para morrer, mas sumiu nas ondas sísmicas, nos sentidos nossos, que nunca deixaremos pra lá, o chega de saudade.
Sei que, na minha memória, no som da minha caixa, João Gilberto está vivo. Sim, joão gilberto prado pereira de oliveira.
2 Comentários
Kubi, mais uma vez você sempre demonstrando sensibilidade e emocionando a todos nós com suas palavras que vão ao âmago da alma. Com elas você tornou vivo João Gilberto no silêncio de sua eternidade. Parabéns !
Além de lamentar, imensamente, a partida de João Gilberto, fica a esperança de que a gravadora,
a viúva, os filhos, e especialmente o grupo de empresários que detém os direitos sobre grande parte
da sua obra, saibam honrar a sua memória e a sua grande obra.
João Gilberto é um daqueles artista que se torna eterno ainda em vida.