Benedita cansou de ser periferia e avisou ao esposo que ia trocar a vida de dona de casa pela de dama chique.
Começou exigindo uma mesada.
Que o marido, Brocoió das brenhas do sertão, entendeu de outro jeito e aplicou-lhe um galo na testa ao meter a mesa da cozinha na cabeça da pobre.
Mas isso foi irrelevante para o intento principal que era e continuou sendo o da transformação de Benedita numa socialite.
De posse do dinheiro da mesada e dos cobres economizados com os trabalhos domésticos em casas de gente rica, foi à butique “Sol Branco” de Adila Galega e lá, depois de aconselhar-se com um rapaz muito fino, educado e de gestos nobres, comprou dois modelos de roupas e gastou o resto com dois pares de sapatos.
Restava a entrada triunfante.
Buscou nas redes sociais as festas por adesão que eram anunciadas e gostou de uma que se realizaria na churrascaria Boi do Lixo, promovida pela famosa colunista social Chica Catavento.
Encomendou um convite para mesa de pista e, no dia aprazado, pegou o taxi de Manoel do Shopping, sentou no banco traseiro, deu o endereço e mandou ligar o ar condicionado para fugir do calor.
Já dentro dos festejos, devidamente abraçada pela colunista regiamente paga, posou para fotografias, exibiu seu sorriso colgate e se preparou para o regabofe.
Só que, desacostumada com tanta comida diferente, meteu a cara com gosto. Comeu pastel de açúcar, rabo de tatu, empadinha de camarão, de carne e de peixe, encontrou um tal de sushi para ser comido com dois pauzinhos e enfiou a cara, em seguida, no prato principal, encheu a boca com delícias como filé a lá broche, salmão ao ponto, costelas adoçadas com molho shui, a gulodice era tanta que a colunista, escandalizada, cochichou no seu ouvido: “Querida, deixe ao menos o espaço para o coração bater”.
A noite foi gloriosa e gloriosa foi a volta pra casa no mesmo táxi de Manoel do Shopping.
Manoel, porém, não gostou muito do resultado.
Quando chegavam perto do Tabaco da Burra e ao passar por uma boca de lobo, o carro deu uma balançada e Manoel escutou uma zoada estranha no banco de trás. Uma zoada acompanhada de uma cheirinho conhecido, muito parecido com aquele que saía nas manhãs de ressaca depois de uma noite bebendo pau dentro no Bar de Renato.
Benedita sentiu uma dorzinha no pé da barriga e uma vontade de soltar um vento. Soltou. E o vento não veio só.
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