Madrugada

Madrugada, hora triste, solitária e escura. Lá fora o sapo canta a solidão. O grilo também. Só não escuto o cantar do passarinho, porque o passarinho, mesmo triste, canta de alegria.

Os anos, dias e instantes da vida passam diante dos olhos de quem não dorme. O que passou, o que está passando, o que virá. Tudo isso valerá a pena?

Os suicidas dirão que não.

Eles se matam porque não gostam da vida, embora alguns quase suicidas garantam que todo suicida se arrepende na hora H. Só que, quando o arrependimento bate, é tarde demais.

Não sei porque enveredei por esse assunto. Não sou nem serei jamais integrante desse time.Quando minha angústia atingir o limite máximo, garanto que matarei alguém e esse alguém não serei eu.

O coronel Zé Pereira dizia isso no século passado. Acabou morrendo aos 68, vítima de apendicite.Mas se dependesse dele, ainda hoje estaria por aí contando a sua epopeia de 30.

Vi Antonio Ivo descer pelo elevador do edifício da Epitácio com um tiro no  peito.Ele mesmo disparou o tiro por não suportar mais a vida. Ivo era médico, político de sucesso e quando se matou ocupava cargo de relevo no Governo.Mas ele tinha suas angústias.

Morrer, segundo os entendidos, é um ato supremo.

Eu adoro ver sepulturas antigas.Essas de hoje são apenas placas. As antigas têm esculturas e altos relevos. Dá gosto ver as fotos dos defuntos enfeitando seus túmulos. Quando vou a Princesa, atualizo meu cadastro visitando o cemitério.Ali tomo conhecimento dos últimos episódios da vida e sou informado da chegada dos novos inquilinos.

Mas eu falava da madrugada, essa silenciosa companheira de quem não tem companhia.

Quantos se foram nos seus braços!

Célio di Pace, Fernando Vilar, Anacleto Reinaldo, outros e outros, tomados pelo abraço da madrugada e levados a mundos distantes, depois de confessarem o cansaço dessa vida sem rima.

Quantos ainda engrossarão esse time até os finais de 2018?

Não esqueçam que 2018 está sendo o ano do povo morredor.