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MADRUGADA

24 de setembro de 2018

Já amei a madrugada, mas isso faz tempo. Não existe mais serenata e madrugada sem serenata é madrugada triste.

Como a de hoje.

Solidão por toda parte, o negrume da noite ainda imperando, de vez em quando o grito solitário de um bêbado errante quebrando esse silêncio medonho, devolvendo ao insone a certeza de que ele não está só no mundo como chegou a pensar.

Conheci uma pessoa que dormia o dia e trabalhava a noite. Ficou invertida, trocou o sol pela lua.

O que deve ter passado pela cabeça desse bacurau!

Os anos me transformaram num velho dorminhoco. Deito com as galinhas e acordo com os galos. Minto, por aqui nem isso tem. O galo aqui não canta, e quando canta é para avisar que tem ladrão na janela.

E a gente fica aqui, pensando besteira, se arrependendo de um monte de coisas e sonhando com coisas que o tempo não permitirá mais concretiza-las.

Eu achava que ganharia na loteria e ficaria rico. Faz 30 anos que marco as mesmas seis dezenas e nunca chego perto. Nem duque eu faço, quanto mais sena.

É tanto que vou deixar de jogar. E nem ligarei se, ao deixar de jogar, a loteria sortear minhas seis dezenas só pra me fazer raiva.

Ficar rico a essa altura do campeonato traria mais problemas do que satisfação.

Apareceeriam os herdeiros, a briga pela herança e até quem se propusesse a morrer de amores por um velho de pimba mole.

Tudo é possível.

Por isso, melhor continuar só no sonho. Dá menos trabalho.

Tão vendo o resultado de uma madrugada com os olhos abertos?

O cabra só pensa besteira.

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