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Mais justiça, menos “justiçamento”. O punitivismo nos levou ao fundo do poço

10 de maio de 2020

 

Por: Aldo Ribeiro – Progressista e economista.

Lá na frente, anos depois, quando essa nuvem negra que insiste em habitar os céus do país esvair-se, teremos a exata noção dos tempos de loucura que temos vivido. Anos chumbo, iniciados lá em meados do fatídico 2013, e sistematicamente retroalimentados pelo “Bolsomorofascismo”. Sim, Bolsonaro e Moro são dois lados da mesma moeda, conforme disse a “conge” do ex-juiz e agora ex-ministro, Sérgio Moro. Tal estado de transe e sucessão crises e escândalos, tem feito com que nos ocupemos quase que exclusivamente ao debate nacional.

Mas gostaria de conversar sobre as coisas da nossa terrinha. Sobre omissão. Sobre a conivência e a conveniência. Sobre a parcialidade oportunista de certos setores da nossa imprensa.

Pra boa parte da população paraibana, atiçado por grande parte do mainstream da mídia paraibana, e com o aparente suporte de quem teoricamente deveria prezar pelo jogo limpo, o ex-governador Ricardo Coutinho já foi julgado e condenado. Sim, a execração pública já adiantou tal processo. De “Nilvanildos do Jacaré Banguela”, à ex-jornalistas em atividade, como os “Helders Mouses” da vida, todos trataram de fazer sua parte direitinho.

E pra isso, repito, aparentemente amparados por quem na teoria deveria prezar pelo jogo limpo do Estado de Direito, cruzaram por assim dizer, os limites do aceitável. Está aí a Lava Jato e o tratamento dado ao ex-presidente Lula. O tempo vai mostrando as vísceras intestinais da operação. The Intercept que o diga. Resultado: abrimos a caixa de pandora, quebramos o ovo da serpente, e temos um tresloucado com um bando de tresloucados no poder.

Dito isso, não vi e nem ouvi, nenhum tipo de repercussão nos bem escritos depoimentos da esposa do ex-governador. Pessoa, que efetivamente viveu na pele todas as agruras do espetáculo midiático reverberado pelos grandes meios de comunicação. Pessoa que levantou alguns questionamentos no mínimo pertinentes, pra que essa mesma imprensa pudesse ter a oportunidade de demonstrar o mínimo de isenção, respeitando a “ampla defesa e direito ao contraditório”. Vocês, imprensa, também são responsáveis por esse estado nada estável de caos em que vivemos. A imprensa é o tal do quarto poder. Tem o poder de criar heróis e vilões. Mas também tem suas responsabilidades. Ou deveria tê-las.

Um assunto bem delicado e que deve ser tratado com o máximo de cuidado, é a questão da guarda do filho do ex-governador. O garoto infelizmente carregará consigo todos os malefícios dessa superexposição sem filtros. E prezo sinceramente que o mesmo saiba lidar com isso lá na frente, pra seguir a longa estrada.

Ocorre que, percebam, toda ação gera consequências na vida das pessoas. Algumas inofensivas, boas ou ruins. Outras são devastadoras.

Li num dos textos da Amanda Rodrigues, que após quatro anos de um longo processo com mais de 1000 páginas, e “recheados de provas de alienação parental, Ricardo ganhou a guarda unilateral de H”. Mas o que me causou espanto mesmo, foi que dentre as medidas proferidas após parecer do Ministério Público, segundo o texto da Amanda, a mãe do menor deveria se submeter a tratamento psiquiátrico. Vocês tem noção do tamanho da responsabilidade de quem julga e condena, seja no âmbito jurídico ou jornalístico na vida das pessoas? O texto da Amanda, diz ainda que a mãe do menor, já havia “desobedecido tudo que havia sido estabelecido na sentença”. Diz mais: que “a guarda unilateral do filho foi concedida por uma juíza que não conhecia o processo, ou desconsiderou sua existência, sem o parecer do Ministério Público, sem visitas determinadas para o pai, e o motivo foi a operação calvário”.

Com assim, meus caros? Vale atropelar os limites éticos e técnicos das coisas? Ninguém notou que existia uma criança inocente no meio desse quiproquó?

Voltando ao primeiro parágrafo desse texto, peço que façamos uma breve reflexão de onde e como tudo isso começou. Ideologias à parte, o punitivismo bruto tomou o lugar da legalidade e do garantismo. Cruzamos a linha do permitido e esquecemos de frear. Voltemos ao ponto de partida. Por uma justiça de fato justa. Pela “ampla defesa e pelo contraditório”. Por uma imprensa parcial, sim. Porque não? Faz parte do jogo. Mas que respeitem os limites da ética e do bom jornalismo. Utopia, né?

Fica a pergunta: quantos já foram execrados publicamente e depois inocentados pela justiça? E se fosse com você?

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1 Comentário

  • Reply Adauto Cunha 10 de maio de 2020 at 19:01

    Taí uma reflexão a altura. Parabéns.

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