opinião

Manifestação do presidente da República é uma ameaça à crise sanitária e aprofunda a crise política-institucional

25 de março de 2020

 

Carlos Siqueira
Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro – PSB

O país e suas instituições assistiram na noite de ontem, perplexos, manifestações do senhor presidente da República acerca da pandemia causada pelo coronavírus. Sobressai de forma inequívoca, no discurso presidencial, a mais brutal indiferença pelos brasileiros mais vulneráveis à infecção, entre os quais se incluem idosos, acometidos por doenças crônicas cardíacas e pulmonares e diabéticas.

Deve-se destacar, ainda, a completa ausência de empatia pelo sofrimento alheio, em benefício de uma defesa fantasiosa da preservação da atividade econômica, como se ela pudesse ser mantida nos trilhos, apesar do quadro sanitário extremamente grave pelo qual passa o planeta.

Há no discurso presidencial, somadas a indiferença pelos mais frágeis e a redução do sujeito humano a mera peça do processo produtivo, uma flagrante vertente eugenista (*), que de resto marca historicamente os posicionamentos da extrema direita, que não raro conduzem ao extermínio.

O senhor presidente faz, portanto, o que sabe fazer: transforma a inépcia e inapetência para governar, em crise política, em material para que as milícias digitais que fazem sua linha de frente, possam atacar aqueles que se mantenham nos limites do razoável.

Não por acaso, liderando um governo confuso e incapaz de compreender o quadro que a humanidade enfrenta – com honrosas exceções –, intensificam-se os ataques aos governadores e prefeitos, que demonstram acima de tudo serem sujeitos humanos sensíveis, ao transformarem suas administrações em máquinas de guerra, em defesa dos mais vulneráveis e da sanidade de seus estados e cidade.

Eles simplesmente exercem na atividade política o que há de mais relevante: preservar vidas humanas, quaisquer que sejam elas; não cair na barbárie de escolher entre os que devem sobreviver e os que devem ser deixados à morte, como se estivéssemos diante de um processo de seleção natural.
Se a pandemia, a bioquímica do vírus podem ser considerados, ainda que em caráter provisório, um fenômeno natural, o modo de enfrentá-lo é um fenômeno estritamente político, porque requer a sabedoria de fazer escolhas justas, preservar o bem comum, instituir um ambiente de solidariedade, respeito; fazer com que todos se encontrem com a compaixão que devem a seus próximos.

Essas metas, contudo, passam longe da perspectiva presidencial, que preferiria deixar à crise sanitária “cuidar de si mesma”, com os efeitos que já se viu à exaustão pelo mundo. Daí, talvez, o completo desprezo presidencial pelos atos de governo, no sentido mais elevado do termo. A perspectiva delirante que anima seu campo político rejeita a laicidade, para abraçar uma visão apocalíptica, na qual “os justos serão salvos”.

É preciso reconhecer, contudo, no contexto dos desatinos em que gravita o presidente da República, que ele foi sobrepassado pelos fatos e já aparece à população, como aquilo que de fato é: um político que jamais deixará suas bizarrices, para se tornar um estadista.

Finalmente, a fala presidencial para além da ameaça à saúde pública, aprofunda a crise política e institucional podendo gerar graves consequências negativas para o nosso país

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1 Comentário

  • Reply Fred 25 de março de 2020 at 22:24

    Vejo muita gente postando vídeos, muitas vezes dando razão a Jair Bolsonaro. O argumento é: “quem vai pagar minhas contas?”. Mas governo existe para procurar soluções. Um exemplo: o governo editar uma medida provisória obrigando os bancos a não cobrar juros das faturas e empréstimos por 60 dias que aliado a (suspensão das contas de luz e água , cortando pela metade os aluguéis, mensalidades escolares etc). Dessa forma o consumidor, caso opte, poderá prorrogar o pagamento da fatura. Os bancos permaneceram por décadas faturando bilhões , porque então não podem fazer esse sacrifício? Eu mesmo sou um cidadão classe média, e não me importo se o governo diminuir meu salário consideravelmente para que possa dar uma ajuda de custo aos mais pobres, àqueles que lutam para sobreviver. Tirar mais daqueles que têm mais, tirar menos daqueles que tem menos. Mas a postura do governo é inversa! Enche os bancos de dinheiro e corta o salário dos mais fracos. É momento de todos nós fazermos sacrifícios. Porque o dono da Havan não suporta 60 dias pagando funcionário? Porque a fortuna acumulada não está no CNPJ, mas no CPF. Temos que taxar as grandes fortunas, ao mendos nesse momento que passamos. Bolsonaro está sendo pressionado pelos ricos.

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