RAMALHO LEITE
O amigo velho Ernani Satyro , quando censurado por contestar o regime que ajudara a implantar e lhe exigiram coerência, respondeu bem humorado: “quem tem coerência tem ideia fixa e quem tem ideia fixa é doido”. Logo, não se exija coerência dos políticos, pois a política é dinâmica e muda como as nuvens, levando nos ventos das mudanças, os seus protagonistas. Antonio Marques da Silva Mariz, promotor de justiça, prefeito, deputado, senador e governador, não era adepto dessa teoria. O silogismo dele era outro e não partia de premissas falsas. Podia a política mudar, ele mesmo mudar de partido, mas não renunciava aos seus princípios. Estes eram imutáveis. Nos mais de vinte anos da ausência de Mariz, muitas passagens de sua vida pública vieram à tona. Escolhi duas, que representam sua paixão pela coerência e firmeza de princípios:
O cenário era o gabinete do senador Humberto Lucena, em Brasília. Os aliados do governo e integrantes da bancada federal paraibana foram reunidos pelo ex-governador João Agripino. Agripino prometera ao presidente Sarney o apoio unânime de seus correligionários à tese dos cinco anos para o mandato presidencial que estava prestes a se findar. Passou essa informação aos deputados e foi ouvindo um a um. A maioria era a favor dos cinco anos, mas havia discrepâncias: João Agripino Neto, Cássio Cunha Lima e Antonio Mariz.
Agripino começou cobrando a posição do próprio filho. Agripino Neto reafirmou sua posição em favor dos quatro anos para o mandato presidencial, todavia, afirmou: “se o partido fechar questão, eu voto pelos cinco anos”. Chegando a sua vez, Cássio acompanhou a posição de Agripino Neto, apesar de defender o mandato de quatro anos, mas diante do “fechamento de questão”, não iria contrariar o partido. Mariz ouviu seus companheiros, contudo, não esperou ser cobrado: “Sou a favor dos quatro anos de mandato. Se o partido fechar questão, continuo votando a favor dos quatro anos”, encerrou o assunto. Fui testemunha da contrariedade de João Agripino.
Na batalha pela indicação para governador da Paraíba, pela via indireta, a ARENA estava dividida em dois blocos. O capitaneado pelo governador Ivan Bichara defendia a indicação do senador Milton Cabral e o outro queria a ascensão do deputado Mariz. Os ânimos ainda não estavam acirrados e os blocos dialogavam entre si. Conseguimos um encontro de Mariz e seus contestadores com a participação também dos que o apoiavam.
O cenário foi o antigo Elite Bar, de saudosa memória, em Tambaú, em frente à gameleira também desaparecida. A mesa que se formou era enorme, acomodando doze deputados de ambas as facções. Houve quem lembrasse a Ceia Larga, sem a presença do Cristo, mas com alguns candidatos a Judas. Pelos governistas falou o deputado Egídio Madruga expondo seus pontos de vista, mas asseverando que, pessoalmente, nada tinham contra o nome de Mariz. Como o processo de escolha era uma incógnita, qualquer um poderia ser escolhido, disse Egídio. Aquela reunião era para abrir o diálogo, por isso, “queremos saber, de logo, qual a sua posição com relação a nós que não o apoiamos, caso seja escolhido governador”? A resposta veio rápida, no estilo inimitável de Mariz:
– Se eu for governador, vou ensinar vocês a ser oposição durante quatro anos.
O desfecho desse episódio todos sabem: o escolhido para governar a Paraíba foi o professor Tarcísio de Miranda Burity.
3 Comentários
Falar em Antonio Mariz,o ex Prefeito de Souza-PB.,é colocar o estado,em sua devida época,acima de qualquer outro estado pois,dispunha de um politico coerente,democrático e republicano sem marmotas.Culto,firme,vendia confiança,sem firulas e,presente na hora necessária,sem medo e com bom tino de administrador,sempre voltado pros descamizados é,inegavelmente uma figura sem clone e sempre lembrado de forma saudosa,como quem tinha um gosto de “quero mais”
Dificilmente passaria do mandato de prefeito nos dias atuais! Nos tempos de antanho, como vc gosta de falar Tião, a vergonha e o caráter não eram moeda de troca! Ele pela postura e com o tempo à favor, conseguiu colocar em prática! Hoje se não tivesse ??, a Paraíba não teria conhecido Antônio Mariz! Inclusive quem pratica o legado dele, está fora da política totalmente Ramalho Leite! Seu blog é top Tião! Abraço
Tenho Antônio Mariz como a maior figura pública que a Paraíba já produziu , não pelos os cargos que ocupou, mas pelas qualidades do político: Coerência, honestidade e coragem. A Paraíba é órfã de um político como ele e pelo o visto continuará órfã por muito tempo. Tenho o prazer de dizer que trabalhei gratuitamente nas campanhas políticas de Antônio Mariz, apesar de estudante pobre e necessitado a época. Faria tudo de novo!!!