Aldo Lopes de Araújo
O Jornal Raposa, de quatro páginas, foi deixado por um motoboy desconhecido no balcão da farmácia São José, em Princesa. “É de graça, pode pegar”, disse Zé de Edezel a um cliente que, após folheá-lo, cuspiu sua opinião: “Deve ter sido escrito por uma mulher”. Tinha fundamento a ilação do circunstante, vez que o panfleto ostenta um curioso e agradável subtítulo: “Cai de boca na minha”. Vê-se, portanto, que o convite é extensivo a todos, uma belezura de chamamento.
Depois da leitura, percebi que o texto vinculado ao convite diz respeito “à lida diária da mulher numa sociedade machista e patriarcal”. Não tenho noção da periodicidade do jornalzinho, mas com certeza não ficará apenas nesse número. É que logo nas primeiras linhas o editorial registra que essa primeira edição, “saiu da toca com o tema mulheres e política”. E elas prometem adicionar o fermento das ideias com vistas a inchar o bolo da representação feminina na Câmara e em todos os setores da vida civil. Querem seu lugar de fala.
Na matéria de capa, o jornalzinho advoga a inclusão de mais mulheres na política, uma vez que “diversidade de gêneros em posições de poder contribui para a formulação de políticas mais inclusivas e equitativas, afinal de contas é ou não é democracia?” Mais adiante adverte: “Não basta ter mulheres nesses espaços, é preciso que sejam mulheres que lutem pela igualdade de gênero e pautem temas de interesse coletivo”.
Sob a alegação de que existem mulheres machistas que só defendem interesse dos homens, o jornal exorta a população a não votar nessas mulheres. “É preciso saber quem é a mulher e em quem se está votando”. E sapeca a metralhadora giratória: “Importa mulheres em espaço de decisão, exercendo funções legislativas e executivas, mulheres engajadas, comprometidas com os desafios do que é ser uma mulher numa sociedade machista e excludente”.
Além da indicação de livros, o jornal promete ficar vigilante para denunciar casos de violência doméstica, feminicídio, abuso sexual contra mulheres e crianças, crime organizado e corrupção política, em especial a mais podre modalidade de crime que é a compra de votos. Pelo andar da carruagem cibernética, imagino que o Jornal Raposa dará espaço também ao movimento dos lgbt’s que hoje representa uma importante plataforma de luta política contra fascistas, negacionistas, terraplanistas, bolsonaristas do caralho, nazifascistas do inferno.
A exemplo dos panfletos que eram colocados por debaixo das portas nas madrugadas calorentas de Macondo, do romance “O Enterro do Diabo”, de Garcia Márquez, Princesa Isabel também é uma Macondo. Em 1930, um avião sobrevoou a cidade jogando panfletos que pediam a rendição dos revoltosos. Quase oitenta anos depois apareceu “O Picão”, jornal político e satírico que sacudiu a cidade e foi imitado e esculachado e até hoje ninguém sabe que o fez. Agora, chegou em boa hora o JORNAL RAPOSA.
Sem Comentários