Conhecido cidadão de nossa cidade deu uma surra na ex-mulher porque a encontrou conversando com um vigilante na Festa das Neves. Acho que isso aconteceu porque eliminaram a “Bagaceira”, antigo reduto dos boêmios e sonhadores. No tempo dela, dificilmente um fato desses aconteceria, pois as barracas cobertas com as lonas grosseiras de tantos invernos abrigavam facilmente qualquer caso de infidelidade ou chifre.
Quiseram modernizar a festa acabando com a alegria dos pobres, dos cornos e das mulheres infiéis, numa demonstração inequívoca de preconceito. É interessante notar como os políticos adoram os pobres na hora de pedir o voto e ficam alérgicos ao cheiro de grude depois que tomam posse. Sempre foi assim e assim foi com a “Bagaceira” da Festa das Neves. Acabaram com a única coisa boa que tinha na festa.
E como era boa! Eu mesmo fazia ponto na barraca de Zilda, velha conterrânea que se mudou para cá depois que suas carnes já não atraíam mais a exigente clientela do cabaré de Estrela. Fixou residência no Baixo Róger, por trás da linha do trem e fez vida novamente, só que desta vez conquistando os clientes pelo estômago. Seu tempero sertanejo ficou famoso. Sua buchada de bode na “Bagaceira” da Festa das Neves atraia para o gueto da santa desde os cabeceiros grosseiros do porto, às mocinhas intelectuais da província, aquelas que recitavam versos vestindo blusa de saco e exibindo tufos de cabelos em seus suvacos brancos.
Além disso tudo, era bom demais mijar na Ladeira da Borborema, aquela que Mané Caixa D`água, num rasgo de genialidade poética, recitou: “Ladeira da Borborema/tu és mais arta do que eu/mas eu posso subir in tu/e tu num pode subir neu”. Os rios de mijo desciam buscando a Rua da Areia e de lá subia aquele cheiro de mijo com cerveja que perfumava mais do que extrato da Avon.
Pois muito bem, acabaram a “Bagaceira”, a festa definhou e o tal senhor terminou flagrando a ex-mulher em papos infiéis. Deu-lhe uma surra. Dizem que ele achou-se ainda com direito aos seus pertences, somente por ter-lhe dado um emprego de vendedora num mercadinho de suas posses. Pode até ser. Mas repito: todo esse fuzuê seria evitado com a “Bagaceira”. Por isso sugiro à ofendida que procure o prefeito e peça indenização.
2 Comentários
Boa noite, Tião!
Acho que Cássio desistiu mesmo de tentar convencer o povo de João Pessoa de que ele é o cara. Pois pela primeira vez, desde que assumiu o governo em 2003, nunca tinha deixado de fazer uma menção à capital na passagem do seu aniversário. Acho que o dia de hoje foi um sinal de “adeus povo ingrato”.
Tião, eu também mijei muito na Ladeira da Borborema depois de tomar muita cerveja na barraca de Odete. Eu achava muito ótimo demais mijar e observar o mijo descendo de ladeira abaixo. Hoje, a festa das Neves perdeu a motivação. A tendência é acabar.