As minhas madrugadas nem sempre foram silenciosas. As alcançava de olhos abertos, preso à redação do jornal onde fazia o turno da noite para completar o dinheiro do aluguel.
Eram tempos bicudos.
Recém casado, com salário que mal dava para as quatro feiras do mês e ainda sem receber a casa da Cehap prometida por Hermes Pessoa, tinha que emendar o turno do dia com o da noite para pagar a casa alugada.
O batente começava às 8 horas, na minúscula sala do edifício da Adesg, onde Frutuoso Chaves, o chefe, distribuía as tarefas com os repórteres. Saíamos pelas ruas à cata de notícias, voltávamos no começo da tarde para redigi-las e, quando o sol se punha, as matérias eram guardadas num envelope e enviadas à redação do Distrito Industrial para o copidesque dos redatores.
A tarefa terminava para todos, menos para mim. Corria até a casinha do Ernani Sátyro, jantava e voltava, desta vez para o Distrito Industrial. Claro que ainda não era um redator, copiava telegramas, vigiava o telex, aprendia.
Lá para as tantas chegava Zé Souto para a leitura da resenha política. Tinha o cuidado de cortar os excessos e vigiar possíveis escorregões que, se publicados, desagradariam o Governo.
O tique-taque das máquinas só silenciava depois da volta do relógio. A primeira página acabara de ser editada e Aguinaldo, o editor, liberava o pessoal para o retorno ao aconchego. Nem todos, porém, voltavam para casa. Esticavam até as bibocas de Jaguaribe para a saideira da noite ou seguiam adiante para os braços das putas que de outros cobravam e a eles davam por amor.
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