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Nossas doces e inesquecíveis raparigas

4 de janeiro de 2020

O conterrâneo Edgar lembrou bem da bacia de mão, do pedaço de sabão patativa e do pano de prato usado para limpar o que foi lavado. Era assim mesmo, a inocência superando o pecado, o gesto simples sendo maior do que o orgasmo comprado nas bocas de noite da Rua da Lapa.

Ele só errou no quesito desvirginamento. Não foi Rita Quarto de Bode. A essa acusação não poderá responder, sequer merecer condenação. Claro, a professora foi ela. Dela aprendi o remexido, o currichiado, o fungado no cangote e as prosas ditas nos ouvidos noturnos que a tudo escutavam e a ninguém revelavam.

Mas não foi ela.

Houve uma doida chamada Maria Catabi. Vivia sozinha, morava onde lhe oferecessem uma sombra. Pois foi ela, sem palavas de amor ou abraços de aconchego, quem primeiro ofereceu a fruta proibida ao menino que até então se valia da herdeira de Seu Marçal Medeiros ou da frenética mão mágica a balançar o pecado original ante as visões oferecidas pela Pichilinga do Açude Velho.

Claro, a Rua da Lapa foi o pasto dos meninos se pondo rapazes. Nela a timidez ia embora, o medo perdia espaço para a intrepidez e o gosto de pecado se fazia maior do que o sabor das hóstias oferecidas por João Mandu.

E quantas que nela moravam eu guardo na lembrança:

Rita Quarto de Bode, Lindalva, Lurdes Branca, Toinha Baú, Bola, Expedita de Aderbal, Eridan, Pixuita, Rosa Caracaxá, Lurdes de Zé de Totô e, claro, Estrela, a maior de todas, a mais respeitada, a mulher das buchadas, das linguiças caseiras e esposa fidelíssima de um Pedro Caboclo chegado da cidade grande para passar um verão e, apaixonado, perpetuou-se por todos os invernos.

Guardo na lembrança a reação de Lurdes Branca a uma cantada do compadre dias depois do compromisso assumido na Fogueira de São João:

-Comadre que trepa com compadre tem cem anos de atraso!”

Rita era a cunhada. Zé Birrim fora seus arreios. E embora fizesse as caridades familiares ao cunhado ainda imberbe, gemia na hora H o nome do amado, dizendo aos ouvidos adolescentes do mancebo em flor, “me mata, meu Birrim!”.

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1 Comentário

  • Reply Guilherme Abreu 5 de janeiro de 2020 at 12:35

    Muito boa essa história, Tião. Mas você bem que podia detalhar mais esses causos das raparigas de antigamente lá da terrinha.

    Ansioso pelos belos causos!

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