Nós gostávamos de bares. Era neles que, ao fim dos expedientes, cantávamos nossas agruras. Sim, cantávamos, porque embora integrantes do time do liseu, nunca lamentamos isso. Nos conformávamos com pouco. Bastava o momento regado a uma cachacinha, um tira-gosto, fuxicos e poesias. Era assim nossa vida de repórter. E éramos felizes sem saber.
Perto da API, naquele beco espremido pelo prédio da UFPB entre a Visconde de Pelotas e a Duque de Caxias, batíamos ponto na Cantina do Camões. Sua especialidade era língua ao molho de madeira que comíamos com fatias de pão francês. Camões era um velho alegre, de bem com a vida. Criou e educou os filhos com a cantina. Um tornou-se advogado. Depois de formar a família, subiu ao oitavo andar do Edifício do Inamps e de lá se jogou para a morte. O prédio onde funcionava a cantina permanece fechado até hoje.
A fava de Efraim, na Rua 13 de Maio, nos recebia, diariamente, mas era na sexta-feira que a turma pegava pesado, metia a cara com gosto. Chico Pinto, Edmilson, Jackson Bandeira, Pedro Moreira, Júlio Santana, Abmael Morais, Paulo Rozendo, Paulo Santos, Djalma Góes, Tico Pinto e eu no meio, é claro, éramos os fregueses assíduos de Efraim. Este fez nome com o bar, virou político, tornou-se prefeito e terminou condenado a cumprir pena em Mangabeira por se apoderar de dinheiro da Prefeitura.
Na API, criou-se o Bar de Moura. Figura simpática, comunicativa, gente finíssima, Moura se identificou logo com os jornalistas, a quem facilitava os penduras que seriam pagos aos pedaços, no fim do mês. Biu Ramos, por ser presidente da API, bebia de graça e ainda dava pitaco no tempero dos tira-gostos. No Bar de Moura, fui vítima da sacanagem de meus conterrâneos Veronese Lima, Marçalzinho, Marcos Pó Royal e outros. Chegaram num sábado pela manhã ao Correio, onde eu trabalhava, disseram que estavam sem dinheiro para a bebida e eu os mandei a Moura, recomendando moderação na cerveja e salgadinhos. Quando ali cheguei, encontrei a mesa enfeitada com mais de 20 garrafas. “Mas, já?!”, exclamei. E entrei na farra, quase em estado de choque. Porém, não paguei a conta esperada. Moura, com pena de mim, encurtou meu sofrimento. Contou que os rapazes haviam enchido a mesa com garrafas vazias para me assustar. Penosamente, Moura morreu em desastre automobilístico na estrada que liga João Pessoa a Natal.
Na esquina do Fórum, na Rodrigues de Aquino, criaram um bar com nome estrangeiro: Woodstock. Pertencia a uns branquelos de Jaguaribe. Virou moda. Recebia uma seleta plateia todo santo dia e toda santa noite. Até acontecer a briga à boca da noite de um sábado quente. Estava eu com Chico Pinto, Jackson Bandeira, Júlio Santana, Góes e alguns outros numa das mesas. Pinto levantou-se e foi cobrar um livro que emprestara a um moço ao lado. Estabeleceu-se a discussão e dali partiu-se para o quebra-quebra. Tentei contemporizar e o sujeito que brigava com Pinto deu-me uma joelhada no ovo esquerdo, que fui no outro mundo e voltei. Não contei conversa: danei-lhe a mão no pé do ouvido. Veio de lá Júlio Santana com uma cadeira de plástico e a quebrou nas costas de Jackson Bandeira, supondo tratar-se de um inimigo. Góes, todo assanhado, exibia uma dentadura que arrancara da boca de um adversário durante a refrega. E o branquelo, dono do bar, só gemendo, pedindo clemência.
E o Grande Ponto de Seu João, no Cordão Encarnado!… Muita coisa aconteceu ali. Namoros começaram, casamentos foram desfeitos, brigas homéricas ficaram nos anais da crônica policial. Mas aquilo de que Seu João não gostava mesmo era dos velhacos que o terminariam levando à falência. Contam que na casa dele existe, ainda hoje, um caderno de volumoso tamanho, cheio, de cabo a rabo, com os nomes e as dívidas de jornalistas.(Do meu novo livro “Nos Tempos de Jornal”)
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